Por Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
No dia seguinte ao rompimento da segunda barragem da Vale, agora em Brumadinho, escrevi nas minhas redes sociais o seguinte: “Se você não pensa que a Vale deve ser proibida de atuar no Brasil, você não entendeu o que aconteceu ontem e em 2015”. Uma publicação puramente passional, que representava minha tristeza e perplexidade profundas. Dentre as várias reações que percebi, a mais instigante foi a de um querido professor dos tempos de graduação. Em mensagem privada, me disse que, com a legislação e o conjunto de valores que temos, tragédias como essas se repetiriam, ou seja, não se tratava da Vale, nominalmente. Concordei 99%.
A questão não é a atividade privada, em si, mas a regulação. Para ficar em um exemplo local, lembremos de 2006, quando cem toneladas de peixe morreram no Rio dos Sinos, como resultado de uma combinação de resíduos tóxicos da indústria coureiro-calçadista, falta de tratamento de esgoto doméstico e captação de água para irrigar arroz. Atente para a combinação de agentes envolvidos: indústria, agricultura e setor público! O que deveria pairar sobre todos eles é uma regulação forte, que representasse o conjunto de valores da sociedade.
Quando o assunto é telefonia e internet, soterramos os Procons com queixas. Sabemos onde e como reclamar – ainda que nem sempre funcione e o péssimo serviço persista. No caso das questões ambientais, nós ainda não temos clareza, como sociedade civil, do que cobrar e como fazer. Até mesmo algo extremamente básico como a coleta seletiva de lixo é um assunto árido, tanto pela falta de informação entre os cidadãos quanto pela carência de políticas públicas.
Mariana foi uma tragédia ambiental que ceifou vidas, comprometeu a sustentabilidade econômica e ambiental de toda uma região. Ninguém foi preso, e as indenizações, mais de três anos depois, ainda não foram pagas. Sinais tão claros da leniência com o ambiente e a vida humana, que o episódio agora se repete, de forma ainda pior.
Eu concordei 99% com meu professor, pois 1% ainda acha que, devido ao nível de incompetência catastrófico, a Vale deveria se retirar do mercado brasileiro. Quem sabe uma regulação ambiental forte não deixasse outra alternativa, afinal. Mas, tristemente, o ministro Onyx Lorenzoni já disse que “...além da vida das famílias, (a mineração) é um setor econômico muito relevante para o país. É preciso ter equilíbrio”.