Por Ricardo Felizzola, CEO do Grupo PARIT S/A
Buscar riqueza pela inovação preocupa a todos, e o governo tem de ser protagonista. No entanto, a inovação não vem sendo bem tratada no Brasil por falta de compreensão do fenômeno. Há uma simplificação perigosa que confunde ciência e tecnologia (C&T) com inovação.
O ambiente inovador é muito mais do que C&T. Ele precisa de capital humano gerado por educação excelente. Necessita, ainda, de conhecimento, ou seja, de uma tradição de geração e acúmulo de acervos sobre determinados assuntos que vão gerar a base para mais aperfeiçoamentos. Precisa, também, de financiamento, cultura empreendedora (que só existe sob o entendimento completo do que é o capitalismo) e de marcos legais apropriados que façam a sociedade apoiar iniciativas pioneiras com condições especiais temporárias.
Um dos setores que mais gera inovações é o de semicondutores. Há 50 anos, a Coreia do Sul lançou bases no seu setor público e privado para aí investir e, hoje, tem, entre muitas, uma empresa que é a número um no mundo e líder em inovações: a Samsung. Trata-se de empreendimento concebido pela vontade dos coreanos, amadureceu em várias etapas e foi capaz de ter a competitividade necessária para gerar frutos para o país.
No Brasil, hoje, discute-se a descontinuidade da nossa primeira empresa de semicondutores, a estatal Ceitec. É o único empreendimento da América Latina capaz de, a partir do silício, fazer um chip, um circuito eletrônico integrado. Certo que ainda de forma não competitiva, mas trata-se de um “feto” em termos de empreendimento na área. O Ceitec ainda não saiu da barriga da mãe. E já querem abortá-lo, querem que viva por conta própria, como se fosse uma estatal como o Banco do Brasil, que tem mais de cem anos. O Ceitec faz parte de um novo ecossistema no RS e no Brasil. Sua existência gerou motivação para investimentos privados como o projeto HT Micron (US$ 100 milhões), o Instituto de Semicondutores da Unisinos e outros que começam a operar na cadeia produtiva. Tudo no início. Descontinuar o Ceitec seria abortar toda uma cadeia, toda uma vontade. Deixem pelo menos o feto nascer e que, quando adolescente, passe para a iniciativa privada. Assim, os responsáveis do governo estariam cumprindo corretamente seu papel de pais responsáveis e indutores de prosperidade futura via o mais importante setor da inovação que é o de semicondutores.