O cenário lembrava o de uma grande festa, daquelas com ambientes musicais para todos os gostos. Em um mesmo espaço, no Centro de Eventos do ParkShopping Canoas, especialistas em temas como futurismo, inovação, startups e cidades inteligentes compartilharam experiências com empreendedores de todas as idades. Foi o Insight 2018, realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que reuniu mil pessoas nos dois dias de atividades encerrados nesta terça-feira (13), dentro da Semana Global do Empreendedorismo (SGE).
A palavra-chave repetida de maneiras diferentes nos quatro cantos do evento era inovar. Ao todo, foram 23 palestras e nove painéis para discutir os principais desafios e o futuro das empresas. Para completar a imersão, foram oferecidas 11 oficinas e dois hackathons – expressão que significa maratona de programação – para aprender a fazer a partir de um projeto real. Muitas iniciativas podem ter nascido durante o Insight 2018.
Alguns gurus do universo digital brasileiro marcaram presença, como Tallis Gomes, fundador dos aplicativos Easy Taxi e Singu. Tudo rolava simultaneamente em palcos anexos um ao outro. Mas nada de confusão para se entender as apresentações: em vez de alto-falantes, fones de ouvido foram distribuídos para que os participantes pudessem acompanhar o convidado desejado em qualquer lugar do centro de eventos.
Um game para impulsionar a separação de lixo
O entusiasmo e a mobilização de quatro rapazes em volta de uma mesa no Espaço Makers dava a impressão de se tratar de um grupo de amigos que foram juntos para o Insight 2018. A verdade era que eles se conheciam havia menos de uma hora, capturados por um tema que desafia empreendedores de todas as idades: como usar a gamificação para mobilizar pessoas – possíveis clientes – em um processo, seja ele qual for?
William Müller, 29 anos, Jorge Cifuentes, 36, Maurício Schiavo, 27, e Cássio Martins, 36, formavam um dos grupos da oficina e seguiam as orientações do professor João Ricardo de Bittencourt Menezes, do curso de Jogos Digitais da Unisinos, no ponteiro do relógio: cada etapa da atividade durava apenas quatro minutos.
— A gamificação não necessariamente envolve aplicativo ou um jogo eletrônico. Também pode ser analógica, pode ser em um mural onde as pessoas marquem suas atividades, por exemplo. Os passos que passamos aqui são as fases para desenvolver isso — explica o professor.
O projeto elaborado em minutos pelos quatro empreendedores mirou em um desafio de todas as cidades: a separação e a reciclagem de resíduos sólidos.
— Estamos pensando em como mobilizar as pessoas para a separação e descarte de lixo. E a ideia é que isso se dê por meio de uma pontuação obtida nesse processo — conta Müller, que atua como voluntário na Associação Gaúcha de Startups (AGS).
Nesse game, o cidadão colaboraria com o futuro do planeta e poderia aliviar o bolso também, porque esses créditos seriam revertidos em descontos em impostos como o IPTU.
O aplicativo que avisa ao consumidor: o produto desejado está perto
Imagine que você quer comprar aquela smart TV 4k de tela quase infinita. Pesquisa, compara preços, mas nada parece se encaixar no bolso. O projeto de compra começa a evaporar, a virar sonho, até que um dia, na rua, o smartphone vibra. É um aviso de que a TV desejada está pela faixa de preço ideal a alguns metros de distância, na loja que fica na quadra seguinte. Essa possibilidade é real, garantem Giovani Bassani, 33 anos, Fernando Palmeiro, 36, e William Ayres, 35, que atuam juntos em soluções em TI.
— Essa ferramenta existe, essa inteligência de busca. Se o cliente entra em um shopping, por exemplo, pode ser avisado de que está muito perto do produto que está querendo comprar. É uma ferramenta interessante para o varejo — justifica Bassani.
Justamente por isso, eles estavam inscritos no Hackathon Varejo. O trio, empolgado com a ideia de um aplicativo que pudesse revolucionar as vendas, discutia as potencialidades da iniciativa com mentores – profissionais que traziam a experiência da vida real para a mesa. Um deles, Everton Netto, ajudava a colocar pontos de interrogação na proposta, processo fundamental para aperfeiçoá-la.
— O mentor mescla a prática com a inovação que eles trazem. Então, vejo que o desafio aqui é incentivar as pessoas a realizarem um cadastro, colocar suas informações pessoais em um aplicativo que vai, ainda por cima, monitorar os passos delas. Ainda há muito insegurança dos clientes sobre a tecnologia — alerta Netto.
Soluções para os problemas de amanhã
Enquanto os mentores circulavam entre grupos, cada um com sua solução tecnológica, o CEO da Grow+ coordenava as etapas do trabalho. A empresa é uma aceleradora, ou seja, tem a missão de ajudar empreendedores a construírem e consolidarem suas startups.
— As empresas tradicionais precisam inovar, é o que estamos vendo. E entendo que elas não têm como buscar isso com seus recursos próprios, dentro delas próprias. Pelo menos, não com a rapidez necessária. E aí vemos o espaço para startups — projeta Paulo Beck.
Inovação e saúde de mãos dadas
Em outra ponta do Insight 2018, a maratona de programação era voltada a soluções tecnológicas de impacto no setor da saúde, com a parceria de hospitais e instituições de ensino. Foi para essa atividade em especial que vieram de Santa Maria Débora Denardi, 44 anos, e Lisandro Moraes, 40. Ela fez carreira na área de marketing e vendas da Unimed Santa Maria, e ele é técnico de logística. Buscavam soluções para uma iniciativa que Débora, aos poucos, pretende transformar em sua grande missão: promover o bem-estar das pessoas.
Em setembro, Débora criou o Insight 7 Cooworking Cívico Social, que funciona no próprio apartamento dela.
— Agora, eu pretendo monetizar essa iniciativa, oferecer um produto para a comunidade de Santa Maria. Algo que ajude na vida das pessoas. Nossa, eu já tive várias ideias de aqui.
Ela acredita ter encontrado o rumo no Hackathon Saúde. A atividade estimulou propostas viáveis, a partir da mentoria de Andréia Dullius, da aceleradora Grow+, para tornar real um produto de relevância: educação sexual voltada tanto para mulheres quanto para homens. Com essa ideia na cabeça, ela convidou o amigo Lisandro – a quem já chama de sócio – para mergulhar na oficina que poderá garantir uma pré-incubação na incubadora da Universidade La Salle e horas de consultoria no Sebrae-RS e na Grow+.
Oficina de realidade aumentada, virtual e mista
Uma das atividades que chamaram a atenção de novos empreendedores no Insight 2018 foi a oficina sobre Realidade Mista oferecida no Espaço Makers. A missão de apresentar as potencialidades dessa tecnologia na exploração do mercado ficou a cargo dos professores da Unisinos Rossana Queiroz e Fernando Marson.
— As diferenças são bem definidas. Na realidade aumentada, você insere elementos virtuais no mundo real. Na virtual, como o nome diz, tudo é virtual. E na realidade mista, se inserem elementos da realidade no mundo virtual — explica Rossana.
Também chamada de realidade híbrida, ela já merece a atenção de estudiosos desde os anos 1960, mas apenas em 1994 o conceito foi citado pela primeira vez em um artigo científico. Trata-se de uma das apostas, por exemplo, da gigante Microsoft, que encaminha a próxima geração de seu óculos holográfico, o HoloLens.
— Na realidade aumentada, por exemplo, você colocar aquele elemento virtual sobre a realidade, mas sem interação com ela. Já na mista, é possível uma interação com o real. Um personagem virtual pode passar por trás dessa cadeira, por exemplo — diz Marson.
O potencial da realidade mista cresce a cada ano, com cada vez mais possibilidades a partir do aprimoramento de dispositivos, portáteis ou não. Atualmente, áreas como medicina, planejamento urbano e educação despontam como grandes beneficiários dessa tecnologia.
Aprendizado mesmo para quem não está no mundo das strartups
O empresário Marcelo Silva, 41 anos, não criou uma startup nem tem planos para tal. Sua empresa, localizada em Canoas, é voltada para consultoria, vendas e serviços. Uma análise rápida poderia concluir que o Insight 2018 traria pouco acréscimo para o seu negócio. A vantagem dele é saber que esse pensamento é o primeiro passo rumo ao fracasso:
— Sentimos cada vez mais em nosso mercado o impacto da inovação e das novas tecnologias, não temos como escapar disso. Por isso, fiz questão de vir.
Uma das apresentações que ele mais esperava era a de Tallis Gomes, idealizador dos aplicativos Easy Taxi e Singu. O empreendedor que virou case nacional de sucesso falou sobre como crescer de forma exponencial e consistente. O que ele falou foi como música para os ouvidos do gaúcho:
— Valeu muito a pena. Porque ele é empreendedor, ele sabe das dificuldades. O que o Tallis vive é o que eu vivo na minha empresa também. No final, fiquei com a sensação boa de que, na nossa empresa, estamos no caminho certo, usando os novos meios de contatar clientes, aproveitando as redes sociais, indo por esse caminho.