Erguer um negócio do zero e vê-lo se tornar lucrativo em pouco tempo se tornou uma aspiração da geração que começa a desembarcar no mundo dos negócios. O caso do jovem de Porto Alegre que faturou seu primeiro milhão antes dos 18 anos vendendo produtos voltados à cultura geek, mostrado por GaúchaZH no dia 16 de janeiro, pode servir de inspiração, embora não seja um caminho fácil de ser repetido.
Quase oito em cada 10 jovens brasileiros sonham em abrir o próprio negócio, como mostra uma pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. À segurança do serviço público, desejo de gerações anteriores, ou à incerta empreitada em grandes corporações, os mais novos preferem a aventura de uma startup — empresas de tecnologia com alto potencial de valorização.
Há boas notícias para esta turma: a avalanche de vídeos, conteúdo nas redes sociais e outras formas de compartilhamento de conhecimento escancarou portas para que dicas de empreendedorismo cheguem a um público que transpira criação. A internet ferve com conteúdo pago ou gratuito sobre gestão de empresas, organização de planilha de custos, pesquisa de mercado, apresentação do protótipos em feiras, entre outras lições para aumentar as chances de prosperar como empresário.
— Muitos jovens já vêm com mentalidade de empreendedores da escola, já abriram ministartups e exercitaram o empreendedorismo, e aprimoram este conhecimento com cursos online antes de se lançar ao mercado — diz a coordenadora do Programa de TI e Startups do Sebrae-RS, Débora Chagas.
Quando decide iniciar o negócio, esse pessoal encontra farto apoio nas etapas de desenvolvimento da empresa e lançamento do produto — algo mais difícil para as gerações anteriores. O Rio Grande do Sul abriga alguns dos mais importantes parques tecnológicos do país, que incluem suporte a empreendimentos em fase embrionária. Alguns exemplos são as incubadoras Unitec, da Unisinos, com quase 50 empresas apoiadas, e Raiar, da PUC-RS, com 25.
Além de ajudar na gestão, essas incubadoras são ambientes de aproximação de empreendedores de primeira viagem e potenciais parceiros, já que ficam nos mesmos pátios de grandes empresas das áreas da tecnologia. Nos auditórios do Tecnosinos e Tecnopuc, por exemplo, os jovens dividem espaço com gerentes e executivos de companhias como Microsoft, SAP e Dell, instaladas nestas universidades.
— Construir o networking será o pulo do gato para fazer a empresa crescer. Então, participar de eventos e estar próximo de pesquisadores, investidores e executivos é o caminho para conseguir dividir uma mesa de reuniões com grandes parceiros — afirma Leandro Pompermaier, gestor da Raiar.
Eles têm baixa tolerância à frustração
Além da oferta de cursos e apoio à pesquisa, a própria postura da nova geração casa com os movimentos da economia. O desapego dos jovens a ideias fixas, reconhecida característica da chamada Geração Z (nascidos entre os anos 2000 e 2010), é um ponto a favor de negócios. Afinal, debater ideias, lançar produtos, admitir e repensar um projeto fracassado, são características que definem tanto empresas de sucesso quanto o jeito de trabalhar da nova geração.
Assim como têm qualidades, os jovens também têm limitações que precisam domar para enfrentar a rotina incerta de empreender. Uma delas é a baixa tolerância à frustração, que pode fazê-los desistir rapidamente de ideias promissoras, mas que precisam ser melhor trabalhadas. A outra é o perfeccionismo exagerado antes de lançar um produto, o que pode levar uma jovem empresa a perder o timing para fazer um produto.
— Há um medo entre muitos jovens de ver um projeto fracassar, o que poderia trazer frustração ao empreendedor e seus familiares, por exemplo. Mas isso não pode impedir um negócio de avançar. Pode acontecer de a primeira ideia fracassar, mas esse conhecimento será importante para que se desenvolva novas versões do produto ou novos negócios — afirma o consultor Marcelo Geyer Ehlers, autor do livro A Família Investidora e o Family Office.
CINCO REGRAS PARA EMPREENDER
Dinheiro não é a única motivação
Muitos pequenos empreendedores começam suas empresas interessados em qualidade de vida ou em realizar o sonho de poder trabalhar com o que gostam — e não fazer fortuna. Apesar de o dinheiro ser um motivador, não deve ser a única razão de começar um negócio, sob pena de o empresário perder o ânimo e desistir precocemente.
Ideias batidas podem ser boas ideias
Não há nada de errado em criar um negócio a partir de modelos já existentes, desde que sua criação não infrinja as marcas registradas, patentes ou a propriedade intelectual de outra pessoa. As franquias são boas opções para quem pretende replicar um modelo de negócios de sucesso.
Sem diploma, com negócio
Apesar de a educação ser aliada em várias situações, não é preciso Ensino Superior para abrir um negócio. Não que o empreendedor não deva estudar, ele só não pode acreditar que seu sucesso dependerá de ter ou não uma graduação.
Saiba medir os riscos
Geralmente, não é possível obter grande sucesso se não houver disposição em assumir riscos, mas é preciso que esses riscos sejam calculados. Ou seja, não se pode colocar tudo patrimômio a perder em um negócio incerto e com uma chance de lucro relativamente baixa.
Sem idade para criar
O empreendedorismo está cada vez mais forte entre os jovens, mas iniciar um negócio é possível a qualquer idade. É possível encontrar pessoas acima dos 40 anos que utilizaram a experiência e o conhecimento sobre estabilidade financeira para colocar suas ideias em prática.
Fonte: Influenciador digital Neil Pattel, considerado uma das personalidades mais importantes do mundo em empreendedorismo
CONTEÚDO FARTO NA INTERNET
Sebrae
Tem uma plataforma de cursos online, que contemplam de conteúdos mais conceituais, como descobrir qual tipo de empreendedor você é, até mais técnicos, como os conceitos e a aplicação da Nota Fiscal Eletrônica. Confira aqui.
Coursera
Reúne conteúdo de diversas universidades no Brasil, como Unicamp, e no mundo, como Stanford, com cursos gratuitos e pagos (algumas versões cobram apenas para emitir o certificado de participação). Muitos cursos são apenas em inglês. Confira aqui.
Prime Cursos
Fornece curso de empreendedorismo online para assinantes cadastrados. Os conteúdos passam por pesquisa de mercado, fundamentos financeiros e plano de negócio. A carga horária é de 35 horas. Veja neste site.
Endeavor Brasil
Instituto que reúne empreendedores oferece um vasto conteúdo de vídeos pelo YouTube. São entrevistas, palestras e debates sobre a criação e a gestão de negócios no Brasil. Confira aqui.
Geração de Valor
Canal do YouTube com dicas de empreendedorismo, entrevista com empresários de sucesso e debates sobre a criação e administração de negócios no Brasil. Também aborda assuntos sob o tema da educação. Veja neste site.
JOVENS QUE SE DERAM BEM EMPREENDENDO
Miguel Andorffy
Em 2012, aos 19 anos, o gaúcho recebeu uma bolsa para estudar em Stanford e aprendeu a desenvolver uma plataforma online. Era o passo mais importante para fazer deslanchar o aplicativo Me Salva!, que envolve reforço escolar online. Hoje, Miguel é reconhecido como um dos jovens empresários mais bem sucedidos do país e foi apontado pela Forbes como um dos mais destacados brasileiros com menos de 30 anos.
Fraser Doherty
Aos 14 anos, o escocês começou a ganhar dinheiro fazendo geleia, a SuperJam, com uma receita que aprendeu com a avó. Inicialmente, vendia apenas na vizinhança, mas uma grande rede de supermercados quis distribuir o produto, e ele soube como conduzir o crescimento na companhia. Quando fez 23 anos, a empresa dele havia faturado US$ 2 milhões nos últimos dois anos.
Nick D'Aloisio
Esse australiano se tornou milionário aos 17 anos ao vender seu aplicativo Summly, que usa inteligência artificial para resumir notícias, por US$ 30 milhões para o Yahoo, no ano de 2013. Até hoje, discute-se como um site do porte do Yahoo pagou tanto por um aplicativo em estágio tão incipiente.
Ashley Qualls
Com apenas 14 anos, a americana criou o WhateverLife.com, sistema para apresentar em redes sociais seu portfólio com criações de design. O trabalho ficou tão conhecido que um comprador anônimo ofereceu US$ 1,5 milhão pelo portal, mas ela recusou. Aos 17, o negócio a tinha tornado milionária.