Por Cassio Sclovsky Grinberg, consultor de empresas, mestre em Marketing e escritor
O livro O Velho e o Mar, reputado como o preferido entre os leitores de Ernest Hemingway, nos ensina sobre muita coisa – inclusive sobre inovação. O pescador Santiago, há 84 dias sem apanhar um peixe, se lança ao mar em seu pequeno barco Gulf Stream a remo.
Temos, de saída, um teste dos limites da resiliência: mesmo considerado um "salao" (azarado da pior espécie) pelos pais do garoto que lhe acompanhou por 40 dias – mas que agora os pais destinavam a outro barco –, o pescador continua fazendo o que fez todos os dias: a única coisa que importava em sua vida.
Vivemos tempos complexos e velozes, e mesmo que empreendedores de sucesso persistam às vezes por anos até que uma ideia se torne "sucesso da noite para o dia", precisaremos, se não quisermos vacilar na linha tênue que separa perseverança e obsessão, construir uma ponte inteligente entre as medidas que tomaremos agora e as atitudes que nos trouxeram até aqui.
No livro, pouco depois de remar a alto mar, um peixe Marlin de quase seis metros puxa a linha do pescador Santiago. Inicia-se assim um embate que persiste por dois dias e duas noites, com intervalos tocantes de paz negociada e diálogos como os que apenas Hemingway sabia escrever: "Peixe, de qualquer modo você tem que morrer. Acha que precisa matar-me também?".
O livro está centrado na luta: como a que travamos todos os dias em nossas empresas, disputando mercado com nossos concorrentes muitas vezes isolados como o pescador Santiago, armados apenas com bastões leves pressionados pelos calos de nossos dedos. O mercado, no entanto, exige que nos aproximemos de outros públicos e que lutemos com as munições da co-criação e da criatividade, sob pena de termos o mesmo final do pescador: enfrentarmos sozinhos dois tubarões que aparecem para devorar um peixe que, em termos logísticos, é grande e pesado demais para transportarmos dentro de nosso pequeno barco.
E então já não basta o sangue nos olhos de uma indústria fonográfica lançando arpão no tubarão Napster: as lágrimas que escorreram na água logo atrairão tubarões vizinhos, restando-nos voltar à margem ricos com o aprendizado da aventura, mas cansados de não poder mais vender nosso peixe.