O aval de países influentes como Estados Unidos e Brasil a Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente interino da Venezuela, precisa ser aproveitado como um primeiro passo para o aguardado processo de transição democrática nessa nação sul-americana, mergulhada no caos econômico pelo desastroso governo de Nicolás Maduro. A situação a que chegou o país vizinho, com multidões em protesto nas ruas e mais de uma dezena de mortos em conflitos, serve como um triste alerta sobre as consequências de governos populistas, demagógicos e autoritários, que não hesitam em recorrer a todo tipo de artifício para se perpetuar no poder. Na Venezuela ou em qualquer outro país, não há saída fora da democracia.
Reconduzido ao cargo numa eleição marcada por denúncias de fraudes e índices inéditos de abstenção do eleitorado, o sucessor de Hugo Chávez só se mantém no comando graças ao apoio de quem não admite mudanças para não correr o risco de perder privilégios. Entre os que ainda contribuem para manter a população sob sofrimento constante, estão o alto-comando das Forças Armadas, notoriamente envolvidas em casos de corrupção, e integrantes de milícias que temem por seu destino com a possibilidade de ascensão de um governo democrático.
A Venezuela só se transformou em refém de governantes populistas pelo fato de o petróleo responder pela maior parte da renda nacional. Bastou a queda nas cotações internacionais dessa riqueza natural para que a incompetência gerencial viesse à tona e a conta fosse transferida para a população. Isso faz com que, há algum tempo, os venezuelanos enfrentem uma inflação em descontrole, sem perspectivas de emprego e sem oferta de itens essenciais, como alimentos e medicamentos. A evasão de venezuelanos em busca de novas perspectivas em países como o Brasil é apenas a parte mais visível da incompetência gerencial e do desrespeito continuado à Constituição por parte de políticos oportunistas.
O reconhecimento internacional à mudança de comando no país vizinho significa um alento para os venezuelanos, pois é um passo importante para a normalidade democrática. É preciso, porém, que o novo governo, sob o comando do presidente da Assembleia Nacional, liderada pela oposição, confirme rapidamente as promessas de respeito às liberdades individuais e às instituições. A população têm o direito de viver em paz e com prosperidade, o que só pode ser assegurado com eleições livres e transparentes.