O Brasil só tem a ser prejudicado se deixar o Acordo de Paris, que em 2015 estabeleceu metas de redução da emissão de gases causadores do efeito estufa. Durante a campanha eleitoral, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) admitiu a possibilidade de o país deixar o acordo. A decisão deverá ser tomada na próxima semana, conforme o futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que em suas primeiras manifestações, depois de ter sido anunciado oficialmente, vem dando mais ênfase à necessidade de preservação do agronegócio do que à de conciliação entre crescimento e questão ambiental. É preciso cuidado nessa área, cada vez mais indissociável do ambiente de negócios.
O Brasil assumiu um histórico de protagonismo na defesa do desenvolvimento sustentável a partir da realização, no Rio de Janeiro, da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco-92). Não pode, portanto, retroceder na questão ambiental. A pedido do presidente eleito, o país desistiu de sediar a Conferência do Clima em 2019. São sinais contraditórios, reforçados por queixas recentes do futuro mandatário ao que chamou de "festa" de multas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Relatório apresentado nesta semana na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-24), na Polônia, adverte que nove em cada dez pessoas respiram hoje ar contaminado. Se as metas acordadas fossem cumpridas, seria possível salvar até 1 milhão de vidas por ano em todo o mundo até 2050. O indicado para o Meio Ambiente alega como ponto sensível do Acordo de Paris a questão da soberania nacional. As metas aprovadas e a forma como executá-las, porém, foram definidas pelos próprios signatários.
O governo Jair Bolsonaro ainda não entendeu que boa parte de seu sucesso dependerá da imagem do país no Exterior. É ela que regula desde fluxos de turismo a acordos comerciais, vitais para as exportações e o agronegócio – portanto, para o emprego no Brasil. A questão ambiental é especialmente sensível. Nenhum outro tema define tanto a imagem do Brasil como os cuidados que o país dedica ao ambiente, em particular à floresta amazônica.
Nas últimas décadas, o Brasil conseguiu reverter a distorcida imagem de desprezo à natureza para um campeão da causa – justamente, o movimento que tem seu marco na Eco-92. Avançamos muito para se colocar tudo a perder, a troco de nada.