Ricardo Salles, anunciado neste domingo como ministro do Meio Ambiente do governo Jair Bolsonaro, tornou-se um nome conhecido na década passada, ao lançar um movimento de direita que propunha a "renovação da política". Foi candidato em diversas ocasiões, mas nunca se elegeu.
Acabou ingressando no poder pelas mãos de um dos expoentes da política tradicional, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, a quem serviu primeiro como secretário particular e mais tarde como secretário do Meio Ambiente. Durou um ano na pasta, deixando a posição em agosto de 2017, após enfrentar desgaste por sucessivos enfrentamentos com líderes ambientalistas e por uma investigação do Ministério Público por improbidade administrativa.
Salles é o 22º e, provavelmente, último nome anunciado para o ministério de Bolsonaro. Na campanha, o presidente eleito afirmava que contaria com apenas 15 pastas na Esplanada, mas o número aumentou depois da eleição.
O advogado paulista assumirá uma das pastas que gerou maior polêmica durante o processo de montagem do governo. Bolsonaro chegou a anunciar que ela seria fundida com a Agricultura, para acelerar os licenciamentos ambientais, mas recuou depois de manifestações de repúdio de ambientalistas e de líderes do agronegócio, que temiam perder mercado internacional em decorrência da imagem negativa que a medida poderia gerar.
— Defender o meio ambiente e ao mesmo tempo respeitar todos os setores produtivos do Brasil é o que sintetiza muito nosso sentimento — afirmou Salles em sua primeira manifestação depois de ter seu nome anunciado por Bolsonaro. Em entrevista à Folha de S. Paulo, disse que vai "preservar o meio ambiente sem ideologia".
Endireita Brasil
Salles tinha 31 anos quando lançou o movimento Endireita Brasil, em 2006. Rebento precoce do antipetismo, o movimento defendia "uma nova direita" que, apesar de defender o liberalismo econômico, era conservadora nos costumes: era contra o aborto, a favor da pena de morte e contra o uso de drogas.
Uma das iniciativas mais conhecidas do Endireita Brasil foi o Dia da Liberdade de Impostos, data que marcaria o momento do ano em que o brasileiro começaria a trabalhar por si próprio, depois de pagar todos os tributos impostos pelo governo. Durante a campanha eleitoral, o movimento foi acusado de disseminar informações falsas, como a de que Lula teria uma fortuna de US$ 3 bilhões.
Há dois anos, em postagem no Facebook, o movimento ofereceu R$ 1 mil a quem filmasse uma agressão contra Ciro Gomes. A postagem informava onde Ciro Gomes estava e dizia: "Se alguém estiver por perto hostilize o cara, mas ele é esquentadinho. O MEB paga 1.000 reais no vídeo".
Afilhado de Alckmin
Salles passou por PFL, PP, DEM e NOVO, partido ao qual está ligado atualmente. Em 2013, tornou-se secretário particular do então governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB). A escolha gerou reações adversas entre os próprios tucanos, por causa das posições ultraconservadores do advogado e por avaliarem que ele defendia a ditadura militar e negava as violações por ela cometidas. Salles disse que não defendia a ditadura, mas sim uma visão mais equilibrada sobre o regime.
Em 2016, Alckmin chamou-o para a Secretaria do Meio Ambiente, o que voltou a causar desagrado. O ex-governador Alberto Goldman se declarou "enojado". À frente da secretaria, Salles comprometeu-se em reduzir os conflitos entre ambientalistas e produtores rurais.
Problemas com a Justiça
A gestão de Salles na Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo acabou em contestações. No início do ano passado, ele virou tornou réu em ação civil pública, após ser acusado de envolvimento em alterações irregulares de pelo menos seis mapas de zoneamento do plano de manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) da Várzea do Tietê, que envolve 12 municípios cortados pelo rio. O plano delimita as áreas de preservação e aquelas onde são permitidas atividades industriais e de mineração.
Técnicos do MP constataram alterações em mapas que atenderiam a solicitações da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O MP pediu o afastamento de Salles e o pagamento de uma indenização de R$ 50 milhões. O advogado deixou a secretaria em licença médica e acabou sendo afastado por Alckmin.
Salles nega a veracidade das acusações. "Sou réu, mas não há decisão contra mim. São todas (as decisões liminares) favoráveis a mim. Todas as testemunhas foram ouvidas, todas as provas produzidas e o processo está concluso para sentença, pode ser sentenciado a qualquer momento. Todas as testemunhas ouvidas, de funcionários do governo e fora, corroboraram a minha posição", afirmou.