Por Lara Lutzenberger, ambientalista
Apesar de ceticismo no aquecimento global, furacões e enchentes têm assombrado na potência. A cada novo e imprevisível episódio, milhares de pessoas e seus (sólidos) patrimônios são varridos da superfície, escancarando uma insignificância e vulnerabilidade, que não combinam com nossa imagem onipotente.
Alguns creem que essas mudanças são inerentes à evolução planetária. Entretanto, a Terra se diferencia por ter constituído processos de autorregulação no desdobramento evolutivo da vida, muito similar ao corpo humano e a forma com que este se mantém saudável. Os biomas revelam adaptações específicas e paisagísticas, que não apenas deslumbram na criatividade, mas também por serem vitais no provimento das condições essenciais de clima, água, solo e ar. Geleiras polares cumprem papel fundamental na dinâmica das correntes oceânicas, que dançando em par com as aéreas, se trasladam em piruetas até os andes, no sobe e desce da evapotranspiração e precipitação regidos magistralmente pela floresta amazônica. Lá chegando, a massa de umidade e calor se bifurca em dois leitos fluviais voadores, que aportam climatização para Europa e sul do Brasil. Prosseguir no desmatamento tropical e na queima irresponsável de combustíveis fósseis é certeza de colapso climático, da mesma forma que expor-se a condições extremas enferma e mata.
Para o enfrentamento de tamanho desafio, é fundamental acordarmos compromissos que redefinam globalmente o jogo de interesses econômicos. O Acordo de Paris foi estabelecido em 2015 e segue sem força. O Brasil, já sofrido pelo aumento brutal da criminalidade, deveria tomar a dianteira nesse movimento, buscando evitar o agravamento dos desafios e adquirindo uma imagem internacional exemplar.
Falamos das condições básicas de vida, especialmente a humana, independentemente de credo, nacionalidade ou condição social. Se chegarmos ao colapso ecológico, não haverá solução ideológica ou tecnológica que resgate!