A cada três semanas são assassinadas no Brasil mais pessoas do que o total de mortos em todos os ataques terroristas ocorridos no mundo nos cinco primeiros meses de 2017, que envolveram 498 atentados e 3.314 vítimas fatais. Os dados são do Atlas da Violência, estudo divulgado na segunda-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
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Acompanhando a realidade nacional, no Rio Grande do Sul a maioria das vítimas tem de 15 a 29 anos. Somente em 2015, 1.391 pessoas nesta faixa etária foram assassinadas no Estado, aumento de 5,1% em relação a 2014 e de 34,5% na comparação com 2005. Em números absolutos, esse volume coloca o RS em 10º no ranking de assassinatos de jovens (termo utilizado no relatório) entre os 26 Estados e o Distrito Federal. Quando é calculada a taxa de homicídios por 100 mil pessoas de 15 a 29 anos, o Estado fica em 18º lugar.
Número de homicídios por faixa etária de 15 a 29 anos no RS
2005 - 1034
2006 - 980
2007 - 1137
2008 - 1199
2009 - 1081
2010 - 983
2011 - 1018
2012 - 1149
2013 - 1078
2014 - 1323
2015 - 1391
O grupo de pesquisa Violência e Cidadania da UFRGS estuda os motivos para o aumento das vítimas de homicídio nesta faixa etária e, embora entendam que o tráfico de drogas tem interferência, os integrantes tentam buscar explicações mais aprofundadas sobre as causas. A professora do departamento de Sociologia da universidade e integrante do grupo, Letícia Maria Schabbach, não se contenta que a conta dos assassinatos seja coloca apenas no tráfico de drogas:
– A gente acha que há outras motivações. Muitas vezes são mortes causadas por desavenças antigas, desentendimentos momentâneos ou decorrentes de relações afetivas, mas não, necessariamente, com relação ao negócio do tráfico de drogas. É preciso entender melhor o que se passa. Claro, que o tráfico e o ambiente onde essas pessoas estão inseridas potencializam a violência. Em uma briga, dentro dessa circunferência do tráfico de drogas, se um dos envolvidos tiver uma arma de fogo, provavelmente irá utilizá-la.
Segundo o Ipea e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a intenção, com a divulgação dos números, é contribuir "para que o Estado brasileiro, junto com a sociedade, possam avançar nas análises qualificadas sobre a criminalidade violenta, a partir de evidências empíricas que possam apontar caminhos para superarmos essa verdadeira crise civilizatória que, nas últimas décadas, tem naturalizado os homicídios e matado nossos jovens".
Dados nacionais
Segundo o levantamento, em 2015 aconteceram 31.264 homicídios de jovens no Brasil – e esse é o fator preponderante para as mortes desse público, ante outras causas, como acidentes de trânsito e doenças em geral. Os pesquisadores destacam que até a década passada parecia que essa tendência de vitimização juvenil vinha perdendo força, uma vez que entre 2000 e 2010 o incremento na taxa de mortes havia sido de 2,5%, ante 20,3% nos anos 1990 e 89,9% em 1980. Contudo, os últimos dados disponíveis mostram um recrudescimento do problema. Vulnerabilidade social, explicitada também pelas deficiências na educação básica, ajudam a entender o cenário.
A porcentagem de homicídios como causa de morte entre os jovens sobe ainda mais se o recorte for feito para pessoas de 15 a 19 anos: 53,8%. A taxa de assassinatos na faixa etária é de 60,9, ante 28,9 da média brasileira geral. Por Estado, o quadro é considerado heterogêneo, com São Paulo conseguindo reduzir 49,4% dos homicídios de jovens entre 2005 e 2015, enquanto no Rio Grande do Norte a elevação registrada foi de 292,3%.