Por Tarso Genro, ex-governador do Estado (PT)
A sinceridade do vice-governador no artigo sobre os "legados" do governo atual (ZH, 30/11) é elogiável. Disse que governar o RS "nos pareceu surpreendente na complexidade"; "nunca se imaginou que os impedimentos seriam tamanhos". Confissão casada com o dito na campanha de 2014, pelo governador atual: faria um governo "simples", inclusive contra o uso dos "depósitos judiciais" para custear o governo. Outras fórmulas "simples" foram logo reveladas: conter os gastos em saúde e educação, reduzir os servidores da Segurança, aumentar impostos, retrair repasses aos hospitais e prefeituras, acabar com estruturas importantes como FEE e Cientec – entre outras –, sucatear a Uergs e congelar salários dos servidores. Esse foi o método "simples" de governar o Estado, que compõe uma visão curta sobre a complexidade das funções públicas do Estado.
No final do artigo, o vice-governador informou: "Vamos entregar um Estado mais organizado e com soluções para os problemas estruturais encaminhados". Na verdade, o desconhecimento sobre as questões de Estado de um gestor da iniciativa privada – cujas técnicas de mando se orientam pelo direito de propriedade – geram soluções "simples", mas míopes na gestão pública. Esta se reporta ao "interesse público" universal, não ao lucro privado, que é legítimo para a empresa, cuja sanidade é testada pela sua capacidade de lucrar. O Estado, porém, legitima sua existência quando melhora – ainda que com equilíbrio financeiro precário _ a vida das pessoas que vivem mal.
A fala do vice-governador combina-se, portanto, com o método "simples" proposto pelo atual governador Sartori. Não sabendo que enfrentariam uma situação complexa do setor público, escolheram uma saída coerente com o propósito de simplicidade: de uma parte, propuseram-se a extinguir o que deveriam gerir, não pagaram os servidores públicos de acordo com a lei e aumentaram os impostos.
Depois de "venderem" a folha de pagamento, aumentaram a dívida e perderam a redução de R$ 22 bilhões que obtivemos com a redução dos indexadores; aumentaram em 82% o déficit público (nos três primeiro anos do seu governo), investiram 44% a menos do que nós, nesse mesmo período, gastaram R$ 7.345.000 do caixa único – até outubro de 2018 – usando ainda R$ 3.275.000 dos depósitos judiciais. Finalmente, legaram uma dívida com a saúde de R$ 850 milhões e vão deixar para o próximo governo duas folhas de pagamento! Administraram muito mal o Estado se ele fosse uma instituição privada e o fizeram pessimamente quando se pensa que ele é instituição pública.