Por John Fallon, CEO global da Pearson, maior empresa de educação do mundo
Nos últimos anos, temos visto uma sucessão de histórias aterrorizantes sobre o impacto da inteligência artificial no futuro do mercado de trabalho. Mas o temor de que robôs roubem os nossos empregos se resume, em grande parte, a conjecturas humanas.
Esse temor não leva em consideração duas coisas. Primeiro, em termos de perspectivas, se nós agirmos e nos prepararmos para o futuro do trabalho, a transformação digital nos dá uma chance real de melhorar as oportunidades de vida de milhões de pessoas em todo o mundo, revertendo os declínios globais de produtividade e enfrentando a crescente desigualdade de renda. Em segundo lugar, o futuro não se trata de "humano ou máquina"; é "humano e máquina" – portanto, a forma como olhamos para o futuro deveria incorporar essa nova maneira de trabalhar.
Foi o que fizemos em uma pesquisa lançada pela Pearson em parceria com a Universidade de Oxford e a fundação britânica de inovação Nesta. Combinamos as avaliações de especialistas a respeito de tendências que vão além da automação – como globalização, urbanização e mudança demográfica – com uma análise algorítmica realizada por inteligência artificial sobre a evolução das demandas por habilidades no mercado de trabalho. O resultado foi uma visão muito mais aprofundada e positiva do futuro.
Nossas descobertas mostraram que os robôs não estão roubando os nossos empregos, mas a tecnologia está transformando nossa economia e nosso mercado de trabalho. Isso significa que precisamos reavaliar as habilidades de que as pessoas precisarão e atualizar os sistemas educacionais para que ensinem essas habilidades. É preciso dar ouvidos aos clamores para que se garanta que a sociedade se beneficie como um todo, e para que as pessoas sejam capacitadas com as habilidades necessárias para prosperar.
Nosso ponto de partida foi a identificação das habilidades e conhecimentos com maior probabilidade de demanda no futuro, e das combinações de habilidades que podem impulsionar a demanda por empregos. A partir disso, conseguimos prever quais empregos e habilidades crescerão ou cairão em demanda até o ano de 2030, nos Estados Unidos e no Reino Unido.
70% dos trabalhadores estão em empregos em que nós não podemos dizer com exatidão o que vai acontecer – muitos trabalhos provavelmente precisarão ser redesenhados
A pesquisa aponta que 20% dos trabalhadores dos dois países estão em ocupações com chances de redução em participação de mão de obra. Enquanto isso, 10% estão em ocupações com probabilidade de crescimento – essas pessoas estão em setores como educação e saúde, onde é provável que o efeito primordial da tecnologia seja uma melhoria nos resultados, e não uma redução de mão de obra. Os outros 70% dos trabalhadores estão em empregos em que nós não podemos dizer com exatidão o que vai acontecer – muitos trabalhos provavelmente precisarão ser redesenhados, e muitas dessas pessoas devem precisar ser recapacitadas.
A pesquisa leva a uma compreensão mais refinada de quais habilidades estarão sob maior demanda nos próximos anos. Podemos perceber uma importância crescente de habilidades cognitivas, como resolução de problemas complexos, originalidade e fluência de ideias.
Talvez mais interessante ainda seja o fato de que, enquanto a competência em áreas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática está diretamente associada a empregos demandados hoje, nós percebemos que, para o sucesso no futuro, os indivíduos precisarão de uma base mais abrangente de conhecimento. Áreas como história, filosofia e sociologia estão todas fortemente relacionadas a ocupações com previsão de crescimento em participação de mão de obra no futuro.
Essa pesquisa tem o potencial de oferecer um modelo para a reforma educacional necessária para a era digital. E, entre as oportunidades criadas por essa nova era, uma se destaca: a de ajudar educadores a melhorar os resultados de aprendizagem para mais estudantes, de maneira mais personalizada, ao redor do mundo.
Os humanos sempre controlaram seu próprio destino. Futuristas difundindo visões pessimistas têm estado em voga ultimamente. Mas eu sou um otimista e acredito que podemos comandar nosso futuro. Minha esperança é de que empregadores, políticos e sistemas educacionais cooperem para redesenhar empregos, recapacitar indivíduos e encorajar maior desenvolvimento de habilidades, de forma a abrir caminho para a economia do futuro.