Por Pedro Vilanova, cientista de dados, integrante do Projeto Serenata de Amor
Antes de mais nada, este não é um estudo científico. É uma percepção pessoal. Com algum fundamento, é bem verdade. Eu faço parte da Operação Serenata de Amor há quase 2 anos. Nosso projeto criou uma robô, a Rosie, para mapear e nos ajudar a auditar gastos públicos.
Começamos analisando os gastos da Cota Parlamentar - uma base de dados com milhões de reembolsos, impossível de ser analisada humanamente. A prova da nossa relevância técnica foi encontrar mais de 8 mil suspeitas monitorando gastos de deputados e senadores em um universo já fiscalizado por humanos.
Um claro exemplo de uso de tecnologia como substituição das pessoas, certo? Errado.
Nosso impacto de verdade veio quando esse trabalho chegou até a população. Especialmente quando a Rosie ganhou uma conta nas redes sociais, se aproximando do público e gerando comentários e discussões e até respostas dos deputados.
Nós somos capazes de encontrar milhares de suspeitas. Mas não somos capazes de fazer milhares de denúncias. E nem é a nossa vocação. O que a Rosie faz de melhor é aquilo que o olho humano não consegue fazer com tanta eficiência: monitorar longas bases de dados e encontrar suspeitas. Mas tem algo que ela é incapaz de fazer: política.
Por isso, tecnologias como a nossa só fazem sentido se forem abertas ao público. Promoverem o debate. Tecnologia a serviço da democracia precisa ser, acima de tudo, democrática.
Fazer um robô facilitou a aproximação do público, mas o controle social, de fato só acontece com pessoas. Foi ouvindo o que elas pediam, inclusive, que definimos nosso próximo passo: estamos levando a tecnologia da Rosie para análise de despesas municipais, a partir dos diários oficiais das cidades. Algo que foi criado por olharmos para as necessidades da sociedade, de acordo com ela mesma - e que só foi pedido porque as pessoas encontraram em nós um caminho.
Apesar de ajudar, a tecnologia não vai mudar o mundo. As pessoas vão.