Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
Quando problemas econômicos ocupam nosso cotidiano, pouco tempo nos resta para olhar o futuro. Robôs, no Brasil, ainda passam por ficção científica. Entretanto, não é nem mais fenômeno da indústria 4.0 ou setores de ponta que fazem uso intensivo de inteligência artificial, “internet das coisas” (IoT), nanotecnologia ou computação na nuvem. A tendência é sua generalização e, com a produção em escala, barateamento, permitindo que robôs sejam acessíveis a pequenas empresas e famílias (nestas, farão tarefas de limpeza e até cozinha). Serão usados no setor primário, da preparação do solo à colheita, permitindo ganhos de produtividade que equivalem a aumento de até 20% da área cultivada, dependendo da cultura, além de evitar o desperdício de grãos.
E os desempregados desses setores serão absorvidos pelo setor de serviços, como até agora se espera? Certamente, não. Robôs trabalham 24 horas por dia e executam tanto tarefas repetitivas, que as máquinas já fazem, como são capacitados para as complexas. Dirigirão automóveis, caminhões (será o fim de “caminhonaços”?) e aeronaves; farão exames laboratoriais, diagnósticos médicos, inclusive por imagem, de prevenção e evolução de tratamentos; serviços de contabilidade, controle financeiro e de almoxarifado; trabalhos de engenharia, como projeção de prédios, novos materiais e eletrônicos; serão intensivos nas áreas de segurança, defesa e policial; e até redação de textos e alguns serviços de advocacia.
O aumento da produção não dependerá de mais empregos (o jobless growth, crescimento sem emprego), com a extinção de diversas profissões. Críticos anteveem o fim da “classe média”. Por enquanto, só estão fora atividades fortemente dependentes de criatividade e sensibilidade, até agora restritas aos humanos: artes, pesquisa científica, inovação técnica e de processos. A tecnologia vem melhorar a vida. Lutar contra ela é ingenuidade e inútil, mas precisamos construir alternativas às consequências indesejáveis. Esse mundo parece longínquo, mas já é realidade. Enquanto isso, por aqui, verbas para educação, ciência e tecnologia são cortadas, institutos de pesquisas são inviabilizados ou fechados e, ainda, discutimos se vacinas são ou não eficazes. Pegando leve: uma agenda do século 19.