Só a total falta de atenção aos interesses dos gaúchos por parte poder público em âmbito federal e a inoperância da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) podem explicar como a freeway, considerada uma das melhores rodovias do país, teve sua situação tão deteriorada em poucos dias, a ponto de apresentar centenas de buracos. O que ocorreu de fato nos trechos de 121 quilômetros das BR-290 e 116, entre Osório e Guaíba, é o resultado de uma atitude de absoluto descaso com os usuários. Exemplos de mau gerenciamento como esse não têm como ser tolerados, pois resultam sempre num custo pesado para toda a sociedade.
O governo federal falhou, ao ignorar as providências que deveriam ter sido tomadas antes do vencimento do contrato, cuja data-limite era conhecida há mais de duas décadas. A agência reguladora se omitiu, ao dar margem a decisões que puniram quem pagou a mais por isso, e agora dificilmente será ressarcido. Reportagem produzida por jornalistas da RBS Brasília, com base em relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), apontou razões para dúvidas sobre o valor das tarifas cobradas pela Concepa, a concessionária responsável pela freeway, no período final de contrato. Os usuários têm o direito, no mínimo, de saber onde está a verdade sobre o valor justo da tarifa, já que a EGR reluta em atuar com os preços considerados adequados pelo TCU. Estão faltando também explicações satisfatórias sobre a qualidade do asfalto que vinha sendo utilizado. Como podem ter surgido tantos buracos desde o final do contrato?
Os gaúchos não podem se conformar com improvisações até a conclusão do primeiro leilão para definir a futura concessionária, o que deve ocorrer só a partir de março do próximo ano. Faltam razões também para a imposição de um cobertor curto em que, ou a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) assume um problema federal, ou o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) insiste na necessidade de recorrer aos recursos destinados a outras rodovias federais no Estado, já escassos, para custear a manutenção temporária.
É inadmissível que uma rodovia tão importante para os gaúchos, até agora conhecida pela eficiência, tenha sido vítima de tamanha imprevisibilidade por parte do poder público. O desfecho serve de alerta para o que jamais deveria ocorrer em qualquer governo preocupado em atuar com um mínimo de competência.