Por Nana Queiroz, coordenadora de campanhas da Avaaz no Brasil
Da minha mesa eu vejo a mensagem colorida brilhando em um pôster na parede: "Para mudar tudo, precisamos de TODOS". Gosto de ser lembrada desse mantra. Todo dia. Porque esta é a alma do que faço: eu analiso as tendências da internet para tentar criar viralidade. Não para promover uma marca de xampu ou um novo artista, mas pra mudar o mundo.
Na Avaaz, o movimento global on-line de 46 milhões de membros para o qual eu trabalho, nós acreditamos que nossa missão é dar às pessoas as ferramentas que elas precisam para criar o mundo em que desejam viver. Para combater a corrupção, preservar a Amazônia ou erradicar o estupro. A gente bola a tecnologia, o povo faz o trabalho. Não foram poucas as vezes em que de fato vi as coisas mudarem assim.
No Brasil, nossa comunidade tem 12 milhões de cidadãos – é o maior e mais ativo grupo nacional da Avaaz. E os políticos daqui estão começando a entender que precisam ouvir essas vozes digitais – as demandas públicas feitas online são tão reais quanto as feitas offline.
Por exemplo: há poucas semanas entregamos a Cármen Lúcia, presidente do Supremo, uma petição com 2,2 milhões de assinaturas exigindo o fim do foro privilegiado. O privilégio foi extinto antes do fim do dia. Há alguns meses, 1.9 milhão de pessoas do mundo todo pediram que o presidente Temer salvasse um pedaço da Amazônia do tamanho da Dinamarca. Suas vozes foram ouvidas. Nas últimas eleições americanas, uma tecnologia SMS criada por nós permitiu que cidadãos americanos contatassem 2,5 milhões de jovens pedindo que fossem votar em estados-chave. Em 2015, 2 mil voluntários ajudaram a organizar a maior Marcha Mundial pelo Clima apoiados por ferramentas multi-idiomáticas.
A tecnologia já permitiu que o cidadão comum fosse parte da política e conquistasse vitórias que pareciam impossíveis. Mas o futuro trará mais: as mudanças climáticas nos colocam numa encruzilhada. Agora, salvar a humanidade demanda que trabalhemos todos juntos. E pra conectar pessoas de todo o globo, precisamos de tecnologia. Um mundo conectado exige ações políticas conectadas. Não podemos nos dar ao luxo de ser apenas um país (ou um grupo de ativistas) tomando decisões isolado.
Além disso, cada dia mais batalhas importantes serão disputadas na internet – e a tecnologia é apenas uma ferramenta, que pode ser usada para o bem ou para o mal. As redes sociais mudaram o local onde a campanha eleitoral acontece. Por isso, a luta contra os trolls e as fake news se tornaram uma prioridade na Avaaz. Também se tornou mandatório que aprendamos a responder rápido aos desafios que nos aparecem – e com mensagens e imagens inteligentes, com potencial viralizante.
Agora, é possível entender, a partir do comportamento cibernético, que determinado grupo de pessoas está interessado em direitos humanos, enquanto outro grupo se sente tocado pelos animais. Já podemos personalizar nossas campanhas para os indivíduos, tornando "mudar o mundo" uma ciência eficaz.
A humanidade fez progressos tremendos nas últimas décadas, reduzindo a pobreza global pela metade e promovendo o status das mulheres como nunca antes. Essas são evidências de que ser otimista não é ser ingênuo. E a tecnologia pode nos ajudar a transformar esse otimismo em realidade.