Por Jorge Barcellos, doutor em Educação/UFRGS
A greve dos caminhoneiros é o nosso 11 de setembro, ela canaliza todas as nossas emoções e medos. Seus caminhões atingiram o governo Michel Temer como os aviões atingiram as Twin Towers, mostrando não só sua fraqueza, mas também da sociedade em seu consumismo exacerbado, sustentáculo da ideologia neoliberal. Usando e abusando não de armas de destruição em massa, mas de armas de comunicação em massa, os caminhoneiros transformaram as estradas no novo "teatro de operações" e os supermercados no "teatro de operações por subtração": a falta de produtos colocou em pânico a classe média defensora do golpe.
Os caminhoneiros provaram ao país que sua estratégia é mais forte que a da esquerda. Eles podem estar divididos, podem conter em seu interior reacionários, podem estar a serviço dos patrões, mas eles conseguiram sucesso em apontar duas coisas: a primeira é a fragilidade do governo em garantir as condições mínimas de vida ao cidadão; a segunda é que para fazer política é preciso união e estratégia. Dividida, a esquerda não conseguiu nenhuma dessas duas coisas.
Nunca se tratou de administrar a crise econômica – quando as refinarias serão liberadas, quando os caminhões voltarão a abastecer os postos etc. – mas sim de administrar o medo da população: esta é a primeira crise da democracia de emoção (Paul Virilio) em que nossas democracias estão se transformando. O que o movimento dos caminhoneiros teve de revolucionário foi ser unitário na heterogeneidade, transformar as estradas em espaço de sua britzkrieg, invertendo o postulado de Sun Tsé: agora, a essência da guerra não é a rapidez, é estar parado.
Os caminhoneiros ensinaram à esquerda que é preciso união para fazer o Estado reconhecer seus limites: não é mais possível realizar o desejo capitalista liberal, defender o lucro a todo custo dos acionários da Petrobrás à custa do sacrifício dos caminhoneiros e de toda a sociedade. Os caminhoneiros deram esperança para a política de esquerda: vamos, reconheçam a situação real em que vivemos, basta de divisões! Precisamos de um projeto! E tem de ser agora.