Não é novidade que as ideias econômicas são permeadas por valores e preferências, nem que a polarização política emburrece. Nas redes (anti)sociais, as duas combinadas levam à simplificação de interpretar a crise atual, seja como causada pelo estatismo, simbolizado pela Petrobras, ou pelo neoliberalismo de Temer.
As respostas apressadas não podem ignorar que o petróleo é commodity. Logo, o preço do barril (e dos derivados) sofre dupla influência: a) do mercado internacional, e daí varia diariamente em dólar; e b) da cotação interna deste, pois o Brasil adota o sistema de câmbio flutuante. Muitas vezes o preço do barril subia e o dólar aqui baixava, com certa compensação. Só que, desta vez, ambos subiram muito e em tempo curto, com enorme impacto social. A política apropriada é a de que a Petrobras praticava, ao manter um preço médio interno, com sobrelucro quando lá fora estava baixo, formando uma “poupança” para evitar oscilações bruscas quando o barril ou o dólar disparava. A administração atual abandonou tal política. Nada tem a ver com a Petrobras ser estatal, pois se fosse privada, também enfrentaria a mesma volatilidade: essa é inerente ao mercado de commodities. Alguém acha que uma empresa privada não repassaria os aumentos? Se não fizesse, quebraria, assim como a estatal. Esse fato inexorável não depende de ideologia. Os desmandos das últimas décadas não apagam sua história de empresa bem-sucedida e cobiçada pelas concorrentes. Na década de 1970, no governo Geisel, resistiu exemplarmente à crise do petróleo, ampliou a prospecção em águas profundas e contribuiu para a difusão do etanol como combustível substituto. A atual gestão cometeu o erro de abandonar a política de preço médio, substituindo-a pelo extremo oposto. Trata-se de simples barbeiragem: ignorou o impacto social da volatilidade do mercado ao equiparar o petróleo à verdura da feira. Chamar o equívoco de neoliberalismo é no mínimo ofender seus seguidores.
Mas a confusão ideológica não é só das redes: um locaute flagrantemente ilegal, que levou o país ao caos, diz querer “governo forte”, eufemismo para ditadura. Na real, a demanda é por mais subsídios, ou seja, a volta da política de Lula e Dilma. Seria apenas incoerência ou piada, se não custasse mais de R$ 10 bilhões ao Tesouro falido.