Por Gabriel Carneiro Costa, escritor e palestrante
Tudo parou. O país foi parado por uma profissão até então pouco valorizada. O caos se instalou e mais uma vez, nós, brasileiros, vamos matando a esperança de um Brasil melhor.
No meio disso, atingimos uns aos outros, e perdemos todos
Desta vez, entramos no fluxo da escassez. Passamos a acreditar que não há condições para todo mundo e por isso passamos a ter medo que falte. Nesse medo, começamos a competir para estocar e agora vemos cenas de agressividade, gente furando fila, desrespeito e irregularidades.
O problema se agrava, pois, na busca por estocar, passamos a retirar de circulação tudo aquilo que gera condições por uma vida básica. Se não temos mais gasolina, comida, água, gás, entre outros tantos itens em circulação, o aumento dos custos será inevitável. Uma vez que os custos aumentem, passamos a excluir o acesso de outras pessoas a esses itens. E, se mais pessoas vão perder esse acesso, então voltamos ao ponto inicial e reforçamos a crença de que não há para todo mundo. Essa é a matriz da escassez, que com certeza muita gente já conhece.
Se penso em mim enquanto indivíduo, considero lamentável tudo o que está ocorrendo no Brasil. Essa greve afetou minha casa, minha família, meu trabalho. Mas, se penso no coletivo, passo a acreditar que precisamos desse caos. Nenhuma mudança profunda ocorre diante de um cenário estabilizado.
No meio disso tudo, uma luz no fim desse túnel se acende. Vejo pessoas se ajudando, compartilhando alimentos, remédios, caronas de carro, notícias atualizadas etc. Seguimos todos com prejuízos financeiros, estruturais e inclusive morais. Mais uma vez estamos sendo obrigados a viver na tensão do futuro do Brasil. Mas não temos como fugir desta realidade. Vamos seguir em frente e encarar o país em que nascemos.
A verdade é que o brasileiro está cansado de tudo isso. Cada um – e cada categoria – vai encontrando sua forma de manifestar suas insatisfações.
No meio disso, atingimos uns aos outros, e perdemos todos.
Mas precisamos encontrar forças para não matar a pouca esperança que nos resta e acreditar que lá na frente colheremos algum fruto. Que nada disso seja esquecido na próxima eleição e que toda essa escassez não seja em vão.