A demonstração de força dos caminhoneiros está dada. Pararam o país por uma semana, conseguiram o atendimento de suas demandas, especialmente a redução do preço do diesel em R$ 0,46 por dois meses, e deveriam ter voltado ao trabalho na segunda-feira, mas os bloqueios continuam, com prejuízos para o abastecimento de gêneros de primeira necessidade.
A conta dessa inédita paralisação já começou a chegar para produtores rurais, industriais e comerciantes. Chegará mais salgada para o consumidor nos próximos meses, na forma de aumento de preços, e para os trabalhadores em geral, com a possibilidade de desemprego se a anarquia que se instalou no Brasil provocar uma nova recessão, com fuga de investimentos.
As horas perdidas nos postos de combustíveis, as dificuldades no transporte coletivo e a falta de gás de cozinha são os transtornos imediatos para a população em geral, que suporta as dificuldades e apoia a paralisação na esperança que sirva para melhorar sua vida. A má notícia é que não há qualquer sinal de que o movimento, saudado até por dirigentes empresariais como a presidente da Federasul, Simone Leite, traga algum resultado positivo para outro setor que não o do transporte de cargas.
Se hoje nos chocam as imagens de milhões de litros de leite sendo jogados fora, de galinhas e pintinhos morrendo de fome nos aviários e de verduras e frutas apodrecendo nas pequenas e médias propriedades, amanhã sentiremos no bolso o efeito do aumento no preço dos alimentos. A volta da inflação alta é o que de pior pode acontecer a um país em frangalhos como o Brasil, com problemas políticos, econômicos e sociais.
Projeções da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) indicam que a economia gaúcha já perdeu R$ 1,6 bilhão com a paralisação. Os segmentos mais afetados são os da produção de alimentos, bebidas e laticínios. A cada dia, novos setores anunciam a suspensão da produção por falta de insumos. Da indústria de máquinas agrícolas às fumageiras, é raro encontrar um ramo que não tenha sido afetado pela greve (dos empregados), paralisação (dos autônomos) ou locaute (das empresas de transporte) e, agora, pelos forasteiros que se infiltraram no movimento em defesa de seus interesses, uns claros, outros inconfessáveis.
O dado intrigante na continuidade da paralisação é que por todo o Brasil há relatos de caminhoneiros que estão sendo impedidos de voltar ao trabalho. O descarrilamento de um trem carregado de diesel em Bauru (SP) está sendo investigado como ação criminosa.
Para um Estado como o do Rio Grande do Sul, que há anos opera no vermelho e não consegue sequer pagar em dia os salários dos servidores, uma nova queda no Produto Interno Bruto vai significar menor arrecadação de impostos, com reflexos negativos nos já minguados investimentos públicos.