É muito cedo para julgar as consequências e as intenções do movimento dos caminhoneiros. Há, no entanto, outras reflexões que podemos fazer sobre decisões que tomamos no passado. Decidimos abandonar as ferrovias e, mais tarde, não acompanhar as nações que retomaram o investimento em redes ferroviárias. Jamais investimos em hidrovias proporcionalmente ao potencial existente. Tivemos, em alguns momentos, as condições para realizar esses investimentos, mas não o fizemos.
Que interesses motivaram essas decisões? Uma análise dos sistemas de incentivo e do jogo político que nos trouxe até aqui é necessária. Poderíamos estar muito menos dependentes de um setor de transporte ultrapassado que agora tem o poder de parar o Brasil.
Decidimos abandonar os biocombustíveis, o que até é compreensível, visto que a eletrificação avançou mais rápido do que se imaginava. O problema é que não há sinais dessa eletrificação por aqui, e o Brasil não tem um papel relevante na transformação tecnológica que está em pleno curso com os carros elétricos. Também não estamos envolvidos com o desenvolvimento de veículos autônomos, que logo estarão substituindo os caminhões tradicionais.
Ao mesmo tempo, nossos caminhoneiros usam o WhatsApp, que pertence ao Facebook, uma das gigantes da tecnologia digital surgidas na década passada. Outra mudança da qual não participamos. As regras de privacidade e os algoritmos, que, em grande medida, definem a maneira como interagimos, são criados fora do nosso território. Esses códigos moldam o surgimento de movimentos sociais e políticos ao redor do mundo.
Como uma das maiores nações do planeta, falhamos em participar das revoluções que agora determinam nosso futuro. O que podemos fazer agora para evitar que isso continue acontecendo?