Aqui em Lisboa, é comum ouvir, de pessoas que costumavam viver em regiões nobres, que ficou impossível arcar com o custo da moradia nessas áreas. O culpado, todo mundo sabe, é o Airbnb, que traz turistas dispostos a pagar muito mais do que moradores por estadias em apartamentos charmosos.
A tese faz algum sentido se considerarmos que a tributação sobre aluguéis de longo prazo em Portugal é maior do que a do chamado alojamento local, um estatuto criado para incentivar que pessoas comuns hospedem em suas casas, mas que hoje é usado por gente que detém vários imóveis e explora o negócio informal da hotelaria. Corrigir essa distorção é uma solução apontada por quem estuda o assunto.
O que alguns especialistas não enxergam são as outras consequências do Airbnb.
É preciso levar em conta que a plataforma disputa mercado com hotéis, que são enormes estruturas inflexíveis, frias e desinteressantes. Por vezes ocupam quarteirões inteiros, e jamais voltarão a ser moradias. O hotel é o verdadeiro inimigo em matéria de ocupação do espaço.
Em tempos de relativa abundância de crédito para projetos sustentáveis de infraestrutura e transporte, a gentrificação de quem, um dia, teve acesso à cidade de maneira privilegiada eleva a exigência por melhorias em regiões mais distantes. Isso é muito bom. Cria-se um sistema de incentivos para que os governos locais e regionais – ao menos aqueles que têm vontade de melhorar as coisas – invistam de maneira inteligente.
É sempre mais fácil apontar o dedo para quem está inovando, quando frequentemente essas rupturas geram possibilidades muito melhores. As inovações são fruto de leituras de mundo mais precisas e abrangentes do que as anteriores, e contra essa inteligência não adianta lutar.