O Brasil real terá de sobreviver aos desencontros da política e em especial aos danos que a abertura do processo de impeachment pode causar à economia, já conturbada pelos erros do governo e pelo comportamento muitas vezes irresponsável da oposição na votação do ajuste fiscal. O momento mostra um governo com pressa para mobilizar governadores aliados e arregimentar apoio nos movimentos populares. Os oposicionistas tentam ampliar a aflição governamental com a tática de prolongar os trâmites do processo deflagrado na Câmara e assim desgastar ainda mais uma governante já fragilizada pelo fracionamento da base política e pela depressão econômica.
Tudo o que não pode ocorrer é o aprofundamento dos prejuízos já sentidos pela economia, com redução de produção, de renda e de emprego. A eventual paralisia do governo, que a muito custo consegue levar adiante seus projetos relacionados com o ajuste no Congresso, seria a condenação do país a um cenário extremamente preocupante. O Brasil conflagrado encerra o ano muito pior do que começou, e se encaminha para 2016 sob perspectivas ainda mais sombrias. As previsões, quase como consenso, apontam para o aprofundamento da estagnação, para uma inflação ainda elevada e para a intensificação de perdas que atingem em especial a população mais desprotegida economicamente.
A evolução do processo de impeachment no Congresso precisa reverter as previsões mais pessimistas, para que a sociedade, e não só políticos, empresários e lideranças, não deixe de acreditar na possibilidade de reabilitação da economia. É este o momento em que a política, submetida à Constituição e ao conjunto de normas legais, precisa atender aos anseios da maioria da população. E o que a maioria deseja é que se cumpram os rituais do processo de impeachment com transparência e compromisso com a moralização da atividade pública.