A tomada de Kunduz, no norte do Afeganistão, tem sido definida como a maior vitória do Talibã desde 2001, quando o governo sustentado pela milícia foi derrubado por uma coalizão oposicionista apoiada pelas bombas americanas. Para ser exato, esse intervalo de tempo deve recuar pelo menos até 1999, quando os barbudos tomaram o bastião de Mazar-e-Sharif, último reduto do antigo governo do presidente Burhanuddin Rabbani.
Quando as caminhonetes negras dos milicianos entraram no reduto de Mazar, foram vistos pelos habitantes como uma força de ocupação. Afinal, na florescente cidade do norte, com suas tumbas e santuários xiitas e sua população educada de etnia tajique e uzbeque, os combatentes analfabetos de turbantes negros, alguns saídos diretamente das aldeias patanes do Sul, pareciam ter caído do céu.
Exército afegão recupera parte de Kunduz dos talibãs
Mazar-e-Sharif foi a última cidade a cair nas mãos do Talibã na longa guerra de 1992 a 1999, e a primeira a ser retomada pela chamada Aliança do Norte em 2001, numa campanha relâmpago que incluiu até mesmo uma cinematográfica carga de cavalaria comandada pelo general uzbeque (e notório criminoso de guerra) Rashid Dostum.
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Assim como o Estado Islâmico (EI), o Talibã sempre se beneficiou mais da imperícia e do pavor do inimigo do que de seus próprios méritos. Em Kunduz, o roteiro foi parecido com o do norte do Iraque em junho do ano passado: o exército regular treinado pelos Estados Unidos debandou sem luta.
Nos próximos dias, com apoio aéreo da Otan, será a vez de os barbudos, muito mais divididos e desmoralizados do que há 14 anos, fugirem. Mas o fato de a milícia ter conseguido fincar pé numa cidade de 300 mil habitantes, a quinta maior do país, fornece uma ideia aproximada das condições das forças afegãs de manter as rédeas sem apoio americano e europeu.
A guerra que o presidente Barack Obama definiu como aquela que os Estados Unidos "escolheram" parece também ter escolhido os americanos.
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