As circunstâncias precisas da suposta morte do líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgueni Prigozhin, permanecem indefinidas, mas há forte convicção entre especialistas de que teria sido uma vingança do presidente russo, Vladimir Putin.
As redes sociais russas, próximas da oposição ou ligadas ao grupo, concordaram com as primeiras análises dos centros de pesquisa ocidentais, para quem a vida do mercenário estava por um fio desde o motim em junho.
— Não importa as razões pelas quais o avião caiu, o mundo inteiro verá um ato de vingança e retaliação. O Kremlin não vai contestar esta visão — disse Tatiana Stanovaya, fundadora da consultoria R. Politik, na noite de quarta-feira (23).
Até a manhã desta quinta (24), as autoridades russas ainda não divulgaram nenhuma pista.
Causas do acidente
Uma investigação foi aberta por violação das regras de segurança aérea. Membros do Comitê de Inquérito chegaram ao local do acidente menos de 24 horas após a queda do avião.
Por enquanto, nem o Kremlin nem o Ministério da Defesa fizeram quaisquer declarações.
Versões próximas ao grupo Wagner apontam o disparo de mísseis terra-ar S-300 como a principal causa, afirmação que não pôde ser comprovada. A hipótese foi estabelecida poucos minutos depois do anúncio da queda do avião.
A conta Grey_Zone no Telegram registrou, na quarta-feira à noite, "traços brancos no céu característicos da defesa antiaérea" em um vídeo caseiro apresentado como prova do acidente, mas que não pôde ser verificado oficialmente pela AFP.
Outras imagens, que também não puderam ser corroboradas, mostraram a queda em espiral de um aparelho descrito como Embraer 135, no qual Prigozhin estava.
Até a diretora de redação do grupo de comunicação ET, Margarita Sansimoniano, parecia inclinar-se para a pista do assassinato, descartando a hipótese de que o mercenário mais conhecido do planeta teria orquestrado o seu falso desaparecimento.
"Entre as pistas debatidas, está a da encenação. Pessoalmente, inclino-me para (a pista) mais óbvia", escreveu.
Outras vítimas
Dez passageiros estavam no avião que caiu na região de Tver, ao norte de Moscou, segundo uma lista oficial. "Todas as pessoas a bordo morreram", declarou o Ministério de Situações de Emergência.
Dossier, página da internet pertencente ao opositor e empresário exilado Mikhail Khodorkovsky, publicou breves biografias dos supostos mortos.
Dmitri Utkin, o braço direito essencial de Prigozhin no Wagner e conhecido por ser simpatizante neonazista, está entre eles. "Ele era responsável pelo comando e treinamento de combate", relatou Dossier.
Outro passageiro, Valéry Shekalov, era um dos diretores da Concord, empresa fundada por Prighozin, e trabalhava com ele desde os anos 2000. "Ele supervisionava todos os seus projetos civis no Exterior, desde a prospecção geológica até a produção de petróleo e agricultura, assim como a logística do Wagner", completou a publicação.
Hipótese predominante
Os observadores têm vários argumentos para acusar Putin: a sua raiva após o motim de Wagner, o seu histórico de eliminação de opositores ou o endurecimento do regime desde o início da invasão na Ucrânia.
"Se a Rússia fosse um Estado normal, a rebelião teria levado a um julgamento. Apesar do que possamos pensar de Prigozhin, não é razoável matar alguém sem julgamento, especialmente quando ele não está escondido. No mundo de Putin, o mundo dos gangsters, por outro lado, é a única maneira de fazer as coisas. Afinal, quem sabe o que ele teria dito ao tribunal?", publicou Khodorkovsky na rede social X (antigo Twitter).
Samuel Ramani, especialista do instituto britânico RUSI, ponderou que "Alexander Litvinenko e Anna Politkovskaya criticaram a guerra na Chechênia no início dos anos 2000 e foram assassinados em 2006. Putin costuma se vingar tarde. A morte de Prigozhin ocorreu muito mais cedo do que o habitual".
Outras dúvidas permanecem sem resposta.
"Por que Putin escolheu matar Prigozhin de uma forma tão espetacular? Por que ele autorizou Prigozhin a participar da cúpula de São Petersburgo, entre Rússia e África em julho. E por último: por que os mercenários do grupo Wagner agora estão autorizados a falar sobre vingança nas redes sociais?", questionou o ex-embaixador dos EUA na Rússia, Michael McFaul, em sua conta na rede X.