Uma multidão tomou as ruas de Ahvaz, no sudoeste do Irã, neste domingo (5), no primeiro de três dias de homenagem nacional ao general Qassem Soleimani, morto na última sexta-feira (3) num ataque norte-americano no Iraque.
Colocados no teto de um caminhão florido e cobertos com uma manta representando a Cúpula da Rocha de Jerusalém, os caixões de Soleimani e de Abu Mehdi al-Mouhandis, chefe militar iraquiano pró-Irã morto no mesmo ataque, percorreram lentamente o centro de Ahvaz, segundo imagens da televisão estatal iraniana.
Ahvaz é a capital do Khuzistão, uma província mártir da guerra Irã-Iraque (1980-1988), durante a qual o general começou a brilhar.
A televisão estatal iraniana transmite ao vivo desde o início da manhã um programa especial sobre a homenagem nacional, que deve continuar neste domingo em Machhad (nordeste), em Teerã, domingo e segunda-feira, depois em Qom (centro), antes do enterro previsto para terça-feira em sua cidade natal, Kerman (sudeste).
As autoridades declararam três dias de luto nacional. A morte do general Soleimani também parece ter adiado o anúncio de uma nova redução dos compromissos internacionais do Irã em seu programa nuclear, que poderia ter sido anunciada nos primeiros dias de janeiro.
A multidão em Ahvaz carrega bandeiras vermelhas (cor do sangue dos "mártires"), verdes (cor do Islã) e brancas decoradas com dizeres religiosos, além de retratos do general que comandava a força Al Qods, uma unidade de elite da Guarda Revolucionária, o exército ideológico da República Islâmica.
A agência Isna falou de uma multidão "inumerável", a agência Mehr, próxima dos ultra-conservadores, de um "número incrível" de participantes e a televisão estatal de uma "multidão gloriosa".
"Seu sonho"
Homens e mulheres choram enquanto batem no peito ao som de um canto xiita: "Você alcançou seu sonho, encontrou o imã Hussein". Neto de Maomé, o imã Hussein é uma das figuras sagradas mais reverenciadas do xiismo, a quem os fiéis costumam se referir como o "senhor dos mártires".
Gritos de "Morte à América" também são repetidos com veemência.
Soleimani, responsável pelas operações externas do Irã e arquiteto da estratégia do seu país do Oriente Médio, e Mouhandis foram mortos na sexta-feira em um ataque norte-americano com drone nos arredores do aeroporto de Bagdá.
A morte de Soleimani, que o Irã prometeu vingar, chocou a República Islâmica e levantou temores de outra guerra no Oriente Médio.
O presidente norte-americano Donald Trump, que ordenou o assassinato do general, anunciou no sábado que os Estados Unidos selecionou 52 alvos no Irã e que os atacará "muito rapidamente e com muita força" se a República Islâmica atacar pessoal ou locais norte-americanos.
Alguns desses locais "são de alto nível e muito importantes para o Irã e para a cultura iraniana", escreveu Trump no Twitter.
"Se eles atacarem novamente, o que eu recomendo fortemente que não o façam, nós os atacaremos com mais força do que nunca!", acrescentou o presidente norte-americano.
Presença maligna
Trump ressaltou que o número de 52 alvos iranianos corresponde simbolicamente ao número de americanos mantidos reféns por mais de um ano a partir do final de 1979 na embaixada dos Estados Unidos em Teerã.
"Visar locais culturais é um crime de guerra", disse o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, no Twitter.
"Tendo violado seriamente o direito internacional" com os "assassinatos covardes" de Soleimani e Mouhandis, Trump "ainda ameaça cometer novas violações (...) das normas imperativas do direito internacional", para cruzar novas "linhas vermelhas", acrescentou Zarif.
Citado pela agência oficial Irna, o general de divisão Abdolrahim Mussavi, comandante em chefe do Exército iraniano, disse duvidar que os Estados Unidos "tenham a coragem" de cumprir suas ameaças.
As facções pró-Irã no Iraque aumentaram, no sábado, a pressão sobre as bases que abrigam soldados norte-americanos ao final de um dia de enormes manifestações em homenagem ao general Soleimani.
Foguetes e morteiros caíram quase simultaneamente na Zona Verde de Bagdá, onde está localizada a embaixada dos Estados Uniudos, e em uma base militar mais ao norte, onde soldados norte-americanos estão destacados, sem causar vítimas.
O próximo ato pode acontecer no Parlamento iraquiano, onde os pró-Irã poderiam obter neste domingo uma votação ordenando a saída dos soldados americanos do país, o que provavelmente seria seguido pela expulsão de todas as tropas estrangeiras da coalizão anti-jihadista liderada por Washington.
"Contra sua vontade, o fim da presença maligna dos Estados Unidos na Ásia ocidental começou", disse Zarif no Twitter.