Após o ataque americano que matou o general iraniano Qassim Suleimani e o líder paramilitar iraquiano Abu Mehdi al-Muhandis na madrugada desta sexta-feira (3), em Bagdá, no Iraque, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, pediu "severa vingança" e anunciou três dias de luto nacional.
"O assassinato de um comandante militar iraquiano que ocupava um posto oficial é uma agressão contra o Iraque, seu Estado, seu governo e seu povo", afirmou Abdel Mahdi em um comunicado.
O porta-voz do parlamento iraquiano, Mohammed al-Halbousi, também condenou o ataque americano.
— É uma flagrante violação da soberania e violação de acordos internacionais — afirmou.
Abu Mehdi Al Muhandis era o número dois da Hashd Al Shaabi, uma coalizão de paramilitares pró-Irã integrada ao Estado.
Promessa de vingança no país vizinho
O guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, também se comprometeu a "vingar" a morte de Soleimani e decretou três dias de luto nacional no país.
"O martírio é a recompensa por seu trabalho incansável durante todos estes anos (...) Se Deus quiser, sua obra e seu caminho não vão parar aqui e uma vingança implacável espera os criminosos que encheram as mãos com seu sangue e a de outros mártires", escreveu o aiatolá em sua conta no Twitter.
O presidente do Irã, Hassan Rouhani, também prometeu vingança "por esse crime horrível dos criminosos Estados Unidos". Em um comunicado, ele disse ainda que a morte de Suleimani "redobra a determinação da nação iraniana e de outras nações livres da região de se opor à intimidação dos Estados Unidos e defender os valores islâmicos".
O ministro das Relações Exteriores do país, Javad Zarif, condenou a ação e exigiu que os EUA sejam responsabilizados
"O ato dos EUA de terrorismo internacional, localizando e assassinando o general Suleimani — a força mais efetiva no combate ao Daesh (Estado Islâmico), Al Nusrah, Al Qaeda e outros- é extremamente perigoso e tolo", afirmou Zarif em seu perfil no Twitter.
Já a Guarda Revolucionária, cuja unidade de elite, a Al Qods, era chefiada por Suleimani, disse que o ato fortaleceu a determinação de vingança.
— A breve alegria dos americanos e dos sionistas se transformará em luto — disse o porta-voz Ramezan Sharif na televisão estatal.
Comunidade internacional em alerta
A crise é a mais grave escalada nas tensões entre os Estados Unidos (EUA) e o Irã e colocou a comunidade internacional em alerta. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, demonstrou preocupação.
— Este é um momento em que os líderes devem exercer o máximo de restrição. O mundo não pode permitir outra guerra no Golfo — disse seu porta-voz.
Para o presidente francês, Emmanuel Macron, que discutiu a situação com o russo Vladimir Putin, o Irã precisa evitar qualquer tipo de provocação.
Ordenada por Donald Trump, a ação resultou em ao menos nove vítimas. Entre elas, Abu Mahdi al-Muhandis, líder de uma milícia iraquiana favorável a Teerã.
O porta-voz do Hamas, Bassem Naim, responsabilizou os Estados Unidos pelas consequências. "O assassinato abre as portas para todas as possibilidades na região, exceto calma e estabilidade", diz a mensagem publicada no Twitter.
Na manhã desta sexta, o secretário de Estado do governo Trump afirmou à Fox News que o país continua comprometido com uma desescalada com o Irã, mas está preparado para se defender. Antes disso, Pompeo havia elogiado a ação em uma mensagem publicada no Twitter. "Iraquianos dançando na rua por liberdade, gratos porque o general Suleimani se foi", diz o texto.
O ex-vice-presidente e rival de Trump, Joe Biden, afirmou que o presidente deve uma explicação ao povo americano sobre a estratégia para proteção das tropas, da embaixada e dos interesses dos EUA na região.
A presidente da Câmara do congresso americano, Nancy Pelosi, disse que o bombardeio ameaça gerar uma escalada de violência na região. "Os Estados Unidos e o mundo não podem permitir que as tensões cheguem a níveis irreversíveis", afirmou a democrata em um comunicado.
O ministro das Relações Exteriores do Líbano demonstrou preocupação com que o país e o resto da região fossem prejudicados com as repercussões do ataque americano. Ele também condenou a ação, chamando-a de uma violação da soberania iraquiana.
Israel colocou seu exército em alerta e aliados dos EUA na Europa, incluindo a França e a Alemanha, manifestaram preocupação com a tensão na região. O Reino Unido reforçou a segurança de suas bases militares no oriente médio. O ministro de Relações Exteriores, Dominic Raab, disse que a evolução do conflito não é do interesse britânico.
A relatora especial da ONU para execuções extrajudiciais, Agnes Callamard, publicou uma mensagem em uma rede social afirmando que as mortes foram provavelmente ilegais e que violaram as leis internacionais de direitos humanos.