A escalada de confrontações entre Irã e Estados Unidos na virada de ano faz soar novamente, como poucas vezes se viu nos últimos anos, os tambores da guerra no Oriente Médio. O ataque com mísseis disparados por um drone norte-americano ao comboio que transportava o número 2 do regime iraniano, o major-general Qassim Suleimani, deixa antever que Teerã prepara uma agressiva resposta ao que definiu como um "ato de terrorismo."
A teocracia iraniana está longe de ser uma vítima indefesa das circunstâncias ou do poderio bélico dos Estados Unidos. Com Suleimani à frente do serviço de inteligência e da fanática fração Quds da Guarda Revolucionária, o regime dos aiatolás está por trás de grande parte das milícias, dos conflitos, dos grupos ligados ao terror e de regimes sanguinários no Oriente Médio. O longo braço de Teerã alimenta a guerra no Iêmen, treina e financia o Hezbollah no Líbano, apoia decisivamente o ditador Bashar al-Assad na Síria e, mais recentemente, por meio de milícias iraquianas, passou a controlar grande parte da política e do poder no país vizinho, centro de conflitos no Oriente Médio há mais de quatro décadas.
O fato é que, por interesses comerciais, geopolíticos ou por simplesmente não saber como agir, as democracias do Ocidente não conseguiram interromper a crescente influência dos aiatolás xiitas no tabuleiro da região mais explosiva do planeta. Ao mesmo tempo em que voltou a pôr em marcha o programa nuclear, Teerã acelerou sua atividade no Iraque na medida em que o presidente Donald Trump, em iniciativa criticada nos Estados Unidos, reduziu significativamente a presença de tropas no Oriente Médio, seja no próprio Iraque ou no apoio a grupos que enfrentam o Estados Islâmico e o ditador Assad na Síria. Em junho passado, Trump também voltou atrás em um ataque a alvos iranianos depois de que um drone norte-americano foi derrubado, em mais um gesto que pode ter sido considerado como oportunidade para o Irã ir mais a fundo nas suas intervenções na região.
A escalada de violência, que começou na semana de Natal com um ataque de mais de 30 foguetes a uma base militar do Iraque perto de Kirkuk e que matou um funcionário dos EUA, deve ser interrompida o quanto antes. Uma nova guerra em larga escala no Oriente Médio teria um custo inimaginável em vidas e desestabilizaria a economia mundial em um momento de estagnação e incertezas – a disparada do preço do barril de petróleo é apenas o primeiro soluço do que pode estar por vir. Os tambores da guerra devem ser substituídos pela diplomacia, não apenas para que novos atos de confronto sejam contidos por parte de Washington, mas também para que o Irã deixe de lado o apoio a organizações ligadas ao terror, com a correspondente reinserção do país na convivência internacional. É hora de contenção, não de gestos e atitudes radicais.