Dois ataques visaram quase simultaneamente neste sábado (4) à noite (horário local) a Zona Verde de Bagdá e uma base aérea iraquiana que abriga soldados americanos ao norte da capital, informaram autoridades dos serviços de segurança.
Dois morteiros caíram na Zona Verde, onde está localizada a embaixada dos Estados Unidos, atacada na terça-feira (31) por milhares de combatentes e partidários pró-Irã, informaram autoridades da segurança do Iraque e da Zona Verde.
No mesmo momento, menos de 100 quilômetros ao norte, dois foguetes Katyusha caíram na base aérea de Balad, que abriga soldados e aviões americanos, segundo fontes da segurança no local.
De acordo com o comando militar iraquiano, os ataques não fizeram vítimas.
Logo após esses disparos, drones americanos sobrevoaram a base para missões de reconhecimento, acrescentaram as fontes.
Os Estados Unidos enviaram soldados adicionais esta semana para proteger seus diplomatas e soldados no Iraque, onde o sentimento antiamericano, alimentado pelos pró-iranianos, explodiu com assassinato na sexta-feira em Bagdá do poderoso general iraniano Qassem Soleimani e do seu braço-direito Abu Mehdi Al Mouhandis.
Os apelos por "vingança" estão aumentando em Bagdá e em Teerã, enquanto os americanos já consideram há vários meses as facções armadas pró-Irã no Iraque uma ameaça mais perigosa do que os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI).
Desde o final de outubro, treze ataques com foguetes atingiram os interesses americanos no Iraque, matando um americano terceirizado em 27 de outubro em uma base no centro do país.
Nenhum ataque foi reivindicado, mas Washington acusa as facções pró-Irã da Hachd al-Shaabi - uma coalizão paramilitar integrada ao Estado iraquiano - de serem responsáveis.
Neste sábado (4), em Bagdá, milhares de iraquianos gritavam palavras de ordem contra os EUA durante o funeral de Soleimani e de Abu Mehdi Al Muhandis.
Durante o ato fúnebre, milhares de pessoas gritavam "Morte aos Estados Unidos!" no bairro xiita de Kazimiya, enquanto acompanhavam os caixões. Além deles, outras 10 pessoas foram mortas no ataque, sendo cinco iraquianos e cinco iranianos. Os corpos das dez vítimas serão transferidos de Kazimiya para a chamada Zona Verde.
O primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdel Mahdi, participou dos funerais neste sábado, assim como Hadi Al Ameri, chefe das forças pró-iranianas no parlamento iraquiano, Nuri Al Maliki, ex-primeiro-ministro, e vários outros chefes de facções xiitas pró-iranianas. Após o funeral, os corpos serão transferidos para Kerbala e Najaf, duas cidades sagradas xiitas ao sul da capital. Al Mouhandis será enterrado no Iraque e o corpo de Soleimani será transferido para o Irã, onde será enterrado na terça-feira (7) em sua cidade natal, Kerman.
Os analistas agora temem um conflito entre o Irã e os EUA em solo iraquiano. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse, no entanto, que havia eliminado Soleimani para "parar uma guerra", e não começar outra, e ressaltou ainda que planejava um ataque "iminente" contra os interesses dos EUA.
No Irã, as autoridades decretaram três dias de luto oficial em memória de Soleimani, 62 anos. O Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã disse que o país norte-americano cometeu "seu erro mais grave" com a morte de Soleimani. "Esses criminosos sofrerão uma forte vingança no momento e local certos", alertou.
Mobilização pós-ataque
O guia supremo do Irã, Ali Kamenei, e o presidente Hasan Rohani, que já indicaram Esmail Qaani para substituir Soleimani, também pediram represálias. Após o ataque, as forças pró-iranianas têm mais força do que nunca no Iraque, também imersas por três meses em uma revolta popular contra o poder e a influência do Irã.
O ataque americano "viola a soberania do Iraque", disseram líderes iraquianos. O líder xiita iraquiano Moqtada Sadr reativou sua milícia, chamada Exército Mehdi, que foi dissolvida depois de lutar contra a ocupação americana no Iraque (2003-2011). Por sua parte, Hadi Al Ameri, líder dos parlamentares pró-iranianos no Iraque, pediu para "fechar fileiras para expulsar tropas estrangeiras", referindo-se aos norte-americanos. Os deputados se reunirão no domingo e poderão revogar o tratado entre o Iraque e os EUA, que permite a presença de 5,2 mil soldados americanos no país petrolífero.