Neste sábado (4), em Bagdá, milhares de iraquianos gritavam palavras de ordem contra os EUA durante o funeral do general iraniano Qassem Soleimani e de Abu Mehdi Al Muhandis, líder da milícia iraquiana, ambos mortos no Iraque por um ataque americano na sexta-feira (3).
Durante o ato fúnebre, milhares de pessoas gritavam "Morte aos Estados Unidos!" no bairro xiita de Kazimiya, em Bagdá, enquanto acompanhavam os caixões. Além deles, outras 10 pessoas foram mortas no ataque, sendo cinco iraquianos e cinco iranianos. Os corpos das dez vítimas serão transferidos de Kazimiya para a chamada Zona Verde, um bairro sob rigorosas medidas de segurança e sede de instituições governamentais e várias embaixadas, incluindo a dos EUA, que na terça-feira (31) sofreu um ataque de apoiadores do Hashd.
O primeiro-ministro iraquiano Adel Abdel Mahdi participou dos funerais neste sábado, assim como Hadi Al Ameri, chefe das forças pró-iranianas no parlamento iraquiano, Nuri Al Maliki, ex-primeiro-ministro, e vários outros chefes de facções xiitas pró-iranianas. Após o funeral, os corpos serão transferidos para Kerbala e Najaf, duas cidades sagradas xiitas ao sul da capital. Al Mouhandis será enterrado no Iraque e o corpo de Soleimani será transferido para o Irã, onde será enterrado terça-feira (7) em sua cidade natal, Kerman.
Os analistas agora temem um conflito entre o Irã e os EUA em solo iraquiano. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse, no entanto, que havia eliminado Soleimani para "parar uma guerra" e não começar outra, e ressaltou ainda que planejava um ataque "iminente" contra os interesses dos EUA.
No Irã, as autoridades decretaram três dias de luto oficial em memória de Soleimani, 62 anos. Na sexta-feira, dezenas de milhares de pessoas foram às ruas de Teerã gritando "Morte aos Estados Unidos!". O Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã disse que o país norte-americano cometeu "seu erro mais grave" com a morte de Soleimani. "Esses criminosos sofrerão uma forte vingança no momento e local certos", alertou.
Mobilização pós-ataque
O guia supremo do Irã, Ali Kamenei, e o presidente Hasan Rohani, que já indicaram Esmail Qaani para substituir Soleimani, também pediram represálias. Após o ataque, as forças pró-iranianas têm mais força do que nunca no Iraque, também imersas por três meses em uma revolta popular contra o poder e a influência do Irã.
O ataque americano "viola a soberania do Iraque", disseram líderes iraquianos. O líder xiita iraquiano Moqtada Sadr reativou sua milícia, chamada Exército Mehdi, que foi dissolvida depois de lutar contra a ocupação americana no Iraque (2003-2011). Por sua parte, Hadi Al Ameri, líder dos parlamentares pró-iranianos no Iraque, pediu para "fechar fileiras para expulsar tropas estrangeiras", referindo-se aos norte-americanos. Os deputados se reunirão no domingo e poderão revogar o tratado entre o Iraque e os EUA, que permite a presença de 5,2 mil soldados americanos no país petrolífero.