A autoproclamada presidente interina da Bolívia, Jeanine Añez, enviou ao Congresso, nesta quarta-feira (20), uma lei para convocar novas eleições. O ato ocorre exatamente um mês após a votação de 20 de outubro, que marcou o início de grandes protestos no país.
— A Assembleia Legislativa terá a tarefa de realizar a eleição dos membros do Corpo Eleitoral Plurinacional e, assim, poder agendar um calendário eleitoral — explicou Áñez, indicando que é um "documento base" que ainda deve alcançar um consenso nacional.
O Ministro da Justiça, Álvaro Coimbra, ressaltou que a proposta também faz desaparecer todas as alianças estabelecidas para a votação anterior.
— Isso significa que todos os partidos são livres, são novos atores e novos candidatos — disse.
O projeto também propõe a eleição de novas autoridades do órgão eleitoral. O ex-presidente Evo Morales, que venceu a última eleição, renunciou e buscou asilo no México, foi impedido de concorrer, assim como o seu vice, Álvaro Garcia Linera.
Evo Morales renuncia
No domingo (11), Evo Morales renunciou à presidência que ocupava desde 2006, depois de perder o apoio das forças armadas e da polícia. Ele havia convocado novas eleições presidenciais após a denúncia da OEA de haver graves irregularidades no processo eleitoral que o reelegeu como presidente. A medida, contudo, não conseguiu aplacar a ira da oposição.
Após a renúncia, o país mergulhou em um vácuo de poder. Pela Constituição boliviana, a sucessão passa primeiro para o vice-presidente da República, depois para o presidente do Senado e então ao presidente da Câmara dos Deputados. Contudo, todos eles renunciaram com Morales. A segunda vice-presidente do Senado, Jeanine Añez, reivindicou no domingo (10) o direito de assumir o cargo de mandatária do país, sendo oficialmente empossada na terça-feira.
O governo interino conduzido por Añez tem atuado para reprimir os protestos muitas vezes violentos e abalado a política interna e externa do país, com mudanças bruscas em relação à gestão de Evo, primeiro presidente indígena da Bolívia.
Os conflitos na região de Cochabamba e na cidade de El Alto atingiram a Bolívia na última semana desde a partida de Evo, hoje asilado no México, com o bloqueio de uma usina de gás na terça-feira (19), deixando ao menos seis pessoas mortas. Isso elevou o número total de mortes nos distúrbios pós-eleitorais para 30.