Na manhã desta sexta-feira (25) — dia seguinte ao anúncio do fim da apuração que apontou Evo Morales como vencedor das eleições presidenciais — a Bolívia registra protestos e bloqueios nas ruas. Em La Paz, manifestantes bloquearam o trânsito em avenidas da zona sul da cidade e nos arredores da sede do governo. Houve confrontos entre ativistas e motoristas, que queriam desbloquear a passagem à força. Filas se formaram nos transportes públicos, como nas linhas de teleférico.
Houve também bloqueios em Cochabamba e em Santa Cruz de la Sierra, segundo o jornal El Deber. O país vive também o terceiro dia de uma greve que atinge diversos setores.
Segundo a imprensa local, novos protestos foram marcados para a tarde desta sexta, tanto de opositores quanto de apoiadores de Evo. Na noite de quinta-feira (24), houve confrontos em La Paz entre manifestantes e a polícia, além de disparo de balas de borracha contra os ativistas.
O presidente terá um quarto mandato seguido, de acordo com a apuração feita pelo Tribunal Eleitoral, e ficará no cargo até 2025. Ao todo, serão 19 anos no poder.
A contagem de votos foi marcada por idas e vindas e por acusações de fraude, levando quatro dias para ser concluída. Com 99,99% das urnas apuradas, Evo somou 47,07%, contra 36,51% de Carlos Mesa. A diferença de 10,56 pontos percentuais dá vitória a Evo no primeiro turno — ele precisava de pelo menos 10 pontos sobre o segundo colocado para evitar uma nova votação.
Entretanto, Mesa não reconheceu a derrota e disse que Evo está tentando dar um golpe de Estado. O presidente acusa seus rivais da mesma forma: que negar o resultado é tentar dar um golpe na democracia.
Evo diz ainda que é perseguido por ter origem indígena e convidou a Organização dos Estados Americanos (OEA) a auditar os resultados. A OEA analisa a situação e recomendou inicialmente que fosse realizado um segundo turno no país.
Em comunicado conjunto, os governos de Brasil, Estados Unidos, Argentina, Colômbia manifestaram preocupação e defenderam a necessidade de um segundo turno caso a missão da OEA não consiga verificar os resultados com transparência.
Já a União Europeia (UE) defendeu em comunicado a realização de um segundo turno no país. "A melhor opção seria a realização de uma segunda rodada para restabelecer a confiança e assegurar o pleno respeito à eleição democrática", diz o texto.
No Twitter, o Itamaraty escreveu que o relatório da OEA "indica a necessidade de um segundo turno para assegurar o pleno respeito à escolha popular e democrática".
Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, demonstrou apoio a Evo.
— Toda a nossa solidariedade é dirigida ao povo da Bolívia e, especialmente, ao irmão Evo Morales Ayma — disse Maduro em discurso na abertura da cúpula do Movimento dos Não-Alinhados, em Bacu, capital do Azerbaijão.
— Morales enfrenta uma campanha de desestabilização, um golpe de Estado apoiado no Exterior para ignorar a vontade soberana do povo boliviano — afirmou.