O presidente boliviano, Evo Morales, candidato ao quarto mandato, disse na manhã desta quarta-feira (23) que "está em marcha uma tentativa de golpe de Estado contra ele".
— Denuncio ante o povo boliviano: está em processo um golpe de Estado. Ele foi preparado pela direita, com apoio internacional. Até agora temos aguentado e suportado com paciência para evitar violência — declarou Evo, em entrevista coletiva.
Ele não apresentou nenhuma evidência para sustentar seu argumento.
— Não estamos em tempos de colônia. Vamos defender a democracia, o povo organizado recuperou a democracia. Quero dizer à direita boliviana, não sejam responsáveis pelo enfrentamento boliviano, não semeiem o ódio. Somos todos uma grande família — acrescentou.
É a primeira vez que Evo fala após os protestos que se espalharam pelo país nos últimos dias, culminando com a convocação de uma greve geral por prazo indefinido e uma grande marcha nas principais ruas de La Paz na noite de terça-feira (23). As manifestações provocaram incêndios e vandalismo contra centros de votação em locais importantes, como Potosí.
Ao afirmar que estava em gestação um golpe de Estado, Morales disse que isso estaria ocorrendo com a interrupção forçada da contagem de votos em algumas centrais, que foram atacadas por manifestantes.
Evo foi dado como vencedor pelo governo faltando contar 4% dos votos, que o presidente afirma que dariam a ele "uma maior vantagem", pois seria votos de redutos eleitorais evistas.
Com o placar atual, Evo sairia vencedor, com uma margem muito estreita de 10,1% dos votos. Na Bolívia, para ganhar em primeiro turno é preciso ter 50% dos votos mais um ou 40%, desde que o segundo esteja 10 pontos percentuais atrás do primeiro colocado.
— Nós ganhamos em seis Departamentos (a Bolívia tem nove), temos maioria absoluta na Câmara (dos Deputados) e temos meio milhão de votos a mais do que o opositor (o ex-presidente Carlos Mesa) — disse Evo.
A apuração dos resultados gerou protestos pelo país e levou o próprio governo a pedir uma auditoria externa da votação nesta terça-feira (22).
Convocada a auditar os resultados, a missão de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) declarou nesta quarta-feira que considera como "melhor opção" a realização de um segundo turno.
— Devido ao contexto e às problemáticas evidenciadas neste processo eleitoral, continuaria sendo uma melhor opção convocar um segundo turno — disse o diretor do Departamento para a Cooperação e Observação Eleitoral da OEA, Gerardo Icaza, ao apresentar em Washington o relatório preliminar da missão na Bolívia.
Diversos países, incluindo Estados Unidos, Argentina, Brasil e Colômbia, assim como a União Europeia, também manifestaram preocupação com a situação.
A confusão em torno da apuração eleitoral ocorreu porque, após o fechamento das urnas, o Tribunal Supremo Eleitoral começou a contagem usando dois métodos: somando os votos registrados em atas, que traziam os totais de cada mesa, e contando os votos um a um. Apenas os resultados do primeiro foram divulgados num primeiro momento.
Às 22h40min de domingo (20), com 89% das urnas apuradas por meio da contabilidade de atas, Evo tinha 45,7% contra 37,8% de Carlos Mesa — o resultado levaria a um segundo turno, cenário previsto por pesquisas de intenção de votos.
Durante a noite, no entanto, a apuração foi suspensa e nenhum voto foi computado. Na segunda-feira pela manhã, o tribunal afirmou que a apuração um a um mostrava resultados diferentes. Diante das divergências, a apuração feita pelo método voto por voto passou a ser considerada a que traria o resultado oficial.
Na noite da segunda, porém, a apuração via atas foi retomada e, com 95,22% das urnas apuradas, Evo foi anunciado vencedor no 1º turno com 46,86% dos votos, contra 36,73% de Mesa.