O Tribunal Eleitoral da Bolívia retomou nesta segunda-feira (21) um sistema de contagem rápida de votos, após reclamações de opositores, da OEA e vários países, e situou o presidente Evo Morales na liderança (46,4%), seguido do opositor Carlos Mesa (37,07%), com 95,09% das cédulas apuradas.
Entre Morales e Mesa, segundo um informe público do sistema TREP (Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares), controlado pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), há uma diferença de 9,33 pontos e o chefe de Estado estaria a 0,67 ponto de vencer no primeiro turno e, desta forma, evitar um segundo turno que a oposição reivindica.
Segundo a lei boliviana, um candidato vence no primeiro turno se obtiver 50% mais um dos votos ou superar os 40% com dez pontos de diferença do segundo colocado.
Na noite de domingo, um primeiro boletim da contagem rápida, com 84% dos votos apurados pelo TREP, dava 45,28% a Morales e 38,16% a Mesa, mas o escrutínio foi paralisado até a tarde desta segunda-feira, provocando protestos de Mesa e dos observadores da Organização de Estados Americanos. Além disso, países como Brasil, Argentina e Estados Unidos pediram a reativação do TREP.
Mesa disse mais cedo nesta segunda que os resultados do TREP garantiriam um segundo turno contra Morales em dezembro, e denunciou que a situação, em cumplicidade com o TSE, está tentando manipular os votos. Por este motivo, convocou militantes e a população a se mobilizar para que seja respeitada a vontade popular.
Em La Paz, nos arredores de um luxuoso hotel onde o TSE faz a apuração dos votos, militantes do partido de Mesa, o Comunidade Cidadã, estiveram desde o meio-dia agitando bandeiras do partido e gritando para pedir respeito à votação que, insistem, assegura um segundo turno.
"Eu vim pedir o respeito ao meu voto, é evidente que aqui houve uma fraude", disse à AFP o jovem Alexis Romero.
Do lado oposto, Milka, uma militante pró-Morales, que não quis dar seu sobrenome, disse: "estamos aqui para defender o voto da cidadania".
- Potosí, estopim de protestos -
Uma missão de observadores da OEA "rechaçou" a interrupção da apuração de votos na região de Potosí, no sudoeste da Bolívia, onde foram registrados protestos contra o órgão eleitoral diante dos temores de fraude em benefício de Morales.
Os protestos obrigaram o Tribunal Departamental a suspender a apuração de votos na cidade, e veículos de comunicação locais revelaram que policiais se deslocavam da vizinha Sucre a Potosí, sem que o governo tenha confirmado ou informado as razões deste deslocamento.
"A Missão de Observação Eleitoral da #OEAnaBolivia rejeita a interrupção da contagem definitiva no Tribunal Eleitoral Departamental (TED) de Potosí e faz um apelo a que se retome para dar certeza à cidadania. Urgimos que estes processos se realizem de forma pacífica", destacou a organização no Twitter.
O tuíte foi publicado horas depois de o Ministério das Relações Exteriores informar, pela mesma rede social, que o chanceler Diego Pary e os observadores da OEA "acordaram estabelecer uma equipe de acompanhamento permanente no processo de contagem oficial de votos".
A missão da OEA celebrou uma reunião nesta segunda "com o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) e transmitiu-lhe a necessidade de manter informada a cidadania sobre os passos seguintes na entrega dos resultados".
Os protestos em Potosi diante da sede do tribunal eleitoral se estenderam para La Paz (oeste) e Santa Cruz (leste).
* AFP