O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, condenou nesta segunda-feira (5) o racismo e a supremacia branca e descreveu os tiroteios em massa no Texas e em Ohio como um "crime contra toda humanidade", ao pronunciar um discurso à Nação após a morte de 30 pessoas nos ataques no fim de semana.
Enquanto as bandeiras tremulavam a meio-mastro na Casa Branca e o número de mortos subia para mais um, Trump fez uma condenação inesperadamente direta aos racistas. Em menos de 24 horas, dois ataques deixaram 30 mortos nos Estados Unidos — 22 em uma loja Walmart em El Paso, Texas, e outros nove em frente a um bar em Dayton, Ohio.
— Nossa nação deve condenar o racismo, o fanatismo e a supremacia branca — enfatizou Trump em seu discurso.
Ele atribuiu os tiroteios em massa no país a portadores de distúrbios mentais, sem mencionar o acesso fácil a armas de fogo ou ao pensamento extremista, como argumentam os defensores do controle de armas.
— Hoje é muito fácil para jovens problemáticos se cercarem de uma cultura que celebra a violência — afirmou, acusando ainda a internet de favorecer essa cultura.
Memoriais com velas, flores, balões em forma de coração e cartazes com mensagens de condolências foram improvisados do lado de fora do supermercado Walmart, no Texas, e do bar de Dayton.
"Vocês são amados", diz um pequeno cartaz colocado do lado de fora do Ned Peppers Bar.
Na loja do Walmart, as pessoas pararam para prestar homenagens aos mortos. Balões em forma de estrelas — já que o Texas é conhecido como "o Estado da Estrela Solitária", por conta da única estrela em sua bandeira — tremulavam com a brisa da manhã. Um cartaz dizia: "Uma data que não será esquecida: 3 de agosto de 2019".
Em seu breve discurso, Trump não mencionou uma das questões que ele citou em tuítes enviados horas antes: a responsabilidade da imprensa quanto à ocorrência desses massacres.
"A mídia tem uma grande responsabilidade para com a vida e a segurança em nosso país", tuitou Trump. "As fake news contribuíram em muito para a raiva e o ódio acumulados ao longo de muitos anos. A cobertura das notícias tem que ser justa, equilibrada e imparcial, ou esses problemas terríveis só vão piorar!", enfatizou.
No discurso, defendeu, no entanto, novas medidas na lei que permitam que as autoridades possam confiscar armas de pessoas que representem graves riscos para a sociedade.
Além de anunciar a morte de mais uma vítima no Texas, as autoridades informaram que 26 pessoas ficaram feridas em El Paso e outras 26 em Ohio, onde o atirador foi preso em apenas 30 segundos por policiais que estavam na vizinhança.
Agilidade crucial
O chefe da polícia de Dayton, Richard Biehl, falou à imprensa que a agilidade da polícia foi crucial, pois evitou que o atirador conseguisse entrar no bar, o que poderia ocasionar ainda mais mortes. Biehl disse que o atirador usava uma máscara e um colete à prova de balas e estava armado com um fuzil automático.
A polícia indicou que o atirador era um homem branco de 24 anos chamado Connor Betts e disse que a irmã dele estava entre os mortos. Ela teria ido com ele ao local onde ocorreria o tiroteio. Entretanto, a polícia enfatizou que não até o momento não há evidências de que o tiroteio em Dayton tenha sido motivado por racismo.
No Texas, a polícia disse que o suspeito se rendeu em uma calçada perto do local do massacre. Ele foi descrito em relatos da mídia como um homem branco de 21 anos chamado Patrick Crusius.
Acredita-se que ele tenha postado online um manifesto denunciando uma "invasão hispânica" do Texas.
El Paso, que fica na fronteira com o México, é majoritariamente latina.
A responsabilidade de Trump
Sete dos mortos no tiroteio em El Paso eram mexicanos, segundo as autoridades. O manifesto divulgado pouco antes do tiroteio também teria elogiado a morte de 51 muçulmanos em duas mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia, em março.
A polícia disse que o suspeito foi acusado de múltiplos homicídios e poderá pegar a pena de morte. Uma autoridade federal informou que os investigadores estão tratando o tiroteio em El Paso como um caso de terrorismo doméstico.
Apesar de uma série de tiroteios em massa nos Estados Unidos, onde a cultura de armas é profundamente arraigada, os esforços para fortalecer as regulamentações sobre armas de fogo continuam sendo controversos.
Os últimos dois tiroteios marcaram uma semana particularmente sangrenta para a violência armada: três pessoas morreram em um tiroteio em um festival gastronômico no último domingo na Califórnia, e mais duas em um tiroteio em um Walmart no Mississippi.
Os críticos de Trump dizem que o hábito do presidente de falar em termos depreciativos sobre imigrantes está elevando o ódio aos estrangeiros e encorajando a supremacia branca.
— Fingir que seu governo e a odiosa retórica que ele difunde não desempenham um papel no tipo de violência que vimos em El Paso é na melhor das hipóteses ignorante e irresponsável na pior das hipóteses — disse o Southern Poverty Law Center, um grupo defensor dos direitos civis.
A entidade citou algumas ações de Trump como chamar os mexicanos de estupradores e traficantes de drogas e não fazer nada quando uma multidão de partidários gritou em um de seus comícios as palavras de ordem "mandem ela volta (para casa)", em referência a uma congressista nascida na Somália.