Israel anunciou nesta quinta-feira (15) que proibirá a entrada de duas deputadas democratas dos Estados Unidos (EUA), que pretendiam visitar a região da Cisjordânia. O veto ocorre após pressão do presidente americano, Donald Trump.
— A decisão foi tomada, e é a de não permitir que elas entrem — disse Tzipi Hotovely, vice-ministra do Exterior de Israel, à rádio Reshet Bet.
— Não há país no mundo que respeite os EUA e seu Congresso mais do que Israel. No entanto, o itinerário mostrado pelas deputadas mostrou que a única intenção delas era atacar Israel — disse o premiê Benjamin Netanyahu.
As deputadas barradas são Ilhan Omar, de Minnesota, e Rashida Tlaib, do Michigan. Elas são críticas declaradas de Israel e apoiam um movimento de boicote ao país, e pretendiam chegar lá no domingo (18). A viagem foi planejada pela Miftah, uma organização sem fins lucrativos liderada pelo legislador e veterano negociador da paz palestino Hanan Ashrawi.
A viagem particular deveria durar de 18 a 22 de agosto. Tlaib esperava passar alguns dias visitando sua avó, que vive em uma aldeia da Cisjordânia. Não há reuniões oficiais planejadas na agenda das legisladoras americanas, mas elas planejaram visitar as cidades palestinas de Belém, Hebron e Ramallah, e passar algum tempo em Jerusalém.
Netanyahu disse que Israel ainda avalia liberar Tlaib para visitar a avó, desde que ela se comprometa a não promover um boicote contra o país. Durante a estadia, elas deveriam se reunir com organizações da sociedade civil israelenses e palestinas, trabalhadores assistenciais e jovens, e visitar um dos hospitais de Jerusalém Leste afetado pelo recente corte na assistência dos Estados Unidos aos palestinos.
Negar entrada a Omar e a Tlaib provavelmente aprofundará a cisão entre o governo do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e o Partido Democrata americano, cujos líderes disseram em foro privado que medidas como essas não são pertinentes a um país que se orgulha de sua condição de democracia tolerante quanto a expressões políticas.
A três semanas de distância de uma nova eleição marcada para 17 de setembro, Netanyahu está lutando uma batalha amarga para continuar no cargo e precisa parecer forte diante de sua base política direitista dividida.
Proibir a entrada de Tlaib e Omar, porém, representa uma reviravolta na posição de Ron Dermer, o embaixador de Israel aos Estados Unidos, que declarou no mês passado que Israel não negaria entrada a quaisquer legisladores americanos "por respeito ao Congresso dos Estados Unidos e à grande aliança entre Israel e a América".
A questão quanto à admissão das deputadas surgiu por conta da visita planejada para domingo e de uma lei recentemente aprovada por Israel que nega vistos a cidadãos estrangeiros que apoiem publicamente qualquer apelo por um boicote — econômico, cultural ou acadêmico — a Israel ou suas colônias na Cisjordânia.
O objetivo da medida é combater o movimento de boicote, desinvestimento e sanções (BDS), que protesta contra o tratamento de Israel aos palestinos e vem encontrando apoio crescente na Europa e nos Estados Unidos, nos últimos anos.
O presidente Donald Trump, que mantém um relacionamento estreito com Netanyahu, aparentemente se desapontou com o anúncio israelense de que a visita de Tlaib e Omar seria permitida. Em julho, Trump disse que as legisladoras deveriam "voltar" aos países de que vieram, em declarações vistas em geral como racistas.
Tlaib nasceu em Michigan e Omar nasceu na Somália. As duas criticam Israel vigorosamente por seu histórico de direitos humanos e tratamento dos palestinos.
A maioria dos democratas do Congresso reluta muito mais em criticar Israel do que Tlaib e Omar, e muitos se pronunciaram contra as declarações delas que criticam as políticas de Israel e a influência do país no Congresso. Mas assessores do Congresso disseram que muita gente do partido se oporia vigorosamente a uma decisão de Israel de bloquear a visita de duas mulheres não brancas ao país.
Não está claro o que pode ter mudado na posição israelense da semana passada para cá. A Axios noticiou na semana passada que uma reunião entre agências israelenses foi realizada e todas as agências concordaram em que a visita deveria ser autorizada para evitar prejudicar o relacionamento entre Estados Unidos e Israel.
A antecipação quanto à visita gerou atenção significativa da mídia israelense. Esta semana, Nir Barkat, ex-prefeito de Jerusalém e membro do Knesset (parlamento israelense), disse que estaria disposto a conversar com as deputadas, que estão em seus primeiros mandatos, mas não se "elas vierem com suas opiniões e para criar propaganda, ou criar desordem em nosso país".