O presidente Jair Bolsonaro está sendo alvo de críticas por autoridades israelenses após afirmar, na quinta-feira (11), em encontro com evangélicos no Rio de Janeiro, que é possível perdoar o Holocausto, mas não o esquecer. Na ocasião, ele também afirmou que "quem esquece o passado está condenado a não ter futuro".
O presidente de Israel, Reuven Rivlin, adotou tom crítico em mensagens divulgadas pelo Twitter no sábado (13). "Sempre nos oporemos contra aqueles que negam a verdade e aqueles que desejam apagar nossa memória — sejam indivíduos ou grupos, líderes de partido ou primeiros-ministros. Nunca perdoaremos e nunca esqueceremos", afirmou, sem citar diretamente Bolsonaro, mas fazendo referência à declaração do chefe do Executivo brasileiro.
Rivlin acrescentou que o povo judeu sempre lutará contra o antissemitismo e a xenofobia. "Políticos são responsáveis por moldarem o futuro. Historiadores descrevem o passado e pesquisam o que aconteceu. Nenhum deveria cruzar o território do outro", acrescentou.
Em Israel, o cargo de presidente é simbólico, uma vez que o país vive em um sistema parlamentarista. A figura com nível de poder equivalente é, na prática, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, entusiasta de Bolsonaro.
O Museu do Holocausto (Yad Vashem), onde Bolsonaro fez um tour na semana passada, também endossou as críticas, em nota enviada à imprensa judaica. "Discordamos do presidente da declaração do presidente do Brasil de que o Holocausto pode ser perdoado. Não cabe a ninguém determinar quem e se os crimes do Holocausto podem ser perdoados", diz texto enviado à imprensa, como esta publicação do site Haaretz.
Na visita ao Museu do Holocausto, Bolsonaro declarou que o nazismo é de esquerda, visão rechaçada pela própria instituição, conforme consta na visita guiada e no site.
O embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, membro do mesmo partido do primeiro-ministro israelense, defendeu Jair Bolsonaro em um post no Twitter.
No texto, afirmou que o presidente do Brasil, em suas palavras, deixou "claro seu total repúdio ao maior genocídio da história. Em nenhum momento de sua fala o presidente mostrou desrespeito ou indiferença pelo sofrimento judeu. Não vingarão aqueles que desejam levantar suspeições sobre as palavras de um grande amigo do povo e governo de Israel".
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que acompanhou Bolsonaro na visita no Museu do Holocausto, não se manifestou sobre o assunto. Para conter as críticas, Bolsonaro enviou uma mensagem ao governo de Israel.
"Deixei escrito no livro de visitantes do Memorial do Holocausto em Jerusalém: 'Aquele que esquece seu passado está condenado a não ter futuro'. Portanto, qualquer outra interpretação só interessa a quem quer me afastar dos amigos judeus. Já o perdão, é algo pessoal, nunca num contexto histórico como no caso do Holocausto, onde milhões de inocentes foram mortos num cruel genocídio", disse Bolsonaro na carta.