A dona de um veículo apreendido em um Centro de Remoção e Depósito (CRDs) do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) em Taquari, no Vale do Taquari, identificou o uso irregular do automóvel durante uma reportagem exibida na RBS TV.
A matéria abordava a denúncia contra um indivíduo que usava um carro de luxo apreendido, levando à reabertura de uma investigação policial. O resultado da apuração do Grupo de Investigação (GDI) da RBS foi ao ar na última sexta-feira (1º).
Além do carro de luxo, outros veículos apreendidos também estariam sendo utilizados irregularmente, um deles seria o da motorista que identificou o automóvel. A suspeita é de que um policial militar estaria usando o veículo, que deveria permanecer no depósito. O Comando Regional da Brigada Militar abriu um inquérito para apurar o caso.
— Recém estava chegando do trabalho. Aí ligo a TV, estava ali, meu carro ali, HB20. Então a gente trabalha, trabalha, trabalha para conseguir e agora ele está lá, desfrutando do meu, do meu bem, meu carro", lamenta.
O veículo foi apreendido por mandado de busca e apreensão em 2023, durante uma abordagem, em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo. O motivo foi uma disputa familiar. Desde então, a dona do veículo está sem o carro.
— Isso pra mim é muito triste, né? Foram umas imagens que realmente mexeram muito comigo, com o meu lado emocional — afirma a mulher.
Dono do depósito usava carro de luxo
Além do veículo da mulher ser usado de forma irregular, o proprietário do depósito foi flagrado nas ruas com um carro de luxo apreendido.
O veículo é um Chrysler prata, confiscado em dezembro de 2022 por estar com a documentação irregular. Imagens mostram o automóvel parado em sinaleiras e até em um supermercado. Um adesivo de propaganda política chegou a estampar o vidro traseiro do carro.
Após os registros, feitos entre janeiro e outubro deste ano, o Detran abriu uma investigação e suspendeu as atividades do estabelecimento. Os veículos recolhidos na região estão sendo levados para municípios vizinhos.
— A pessoa que tem o carro não pode rodar com o carro porque está irregular, mas o dono do depósito pega o carro e sai andando? E aí a polícia não vê o que acontece? — questiona um dos moradores.
O dono do depósito, Juliano Borba da Silva, foi abordado pela reportagem, mas não quis se manifestar na ocasião. Após a reportagem, a defesa dele emitiu uma nota afirmando que, desde o início das operações, "não foi registrada qualquer irregularidade" e que as investigações "ainda estão em fase de apuração" (leia a íntegra abaixo).
Repórter: "O senhor não acha que isso está errado?"
Dono do depósito: "Não tenho nada a ver com isso"
Repórter: "O senhor não acha que isso tá errado?"
Dono do depósito: "Não tenho nada a ver"
Repórter: "O senhor pode perder a concessão"
Dono do depósito: "O que tem a ver uma coisa com a outra?"
Silva sugeriu que a equipe da RBS TV fosse buscar informações na delegacia.
O dono do automóvel foi localizado pelo GDI em Santa Maria, na Região Central. Ele disse que comprou o carro de um golpista, que se fez passar pelo verdadeiro dono, motivando a apreensão.
— Isso pra mim é muito triste. A gente vê um bem que é da gente, que a gente levou tanto tempo pra adquirir, algo que eu sempre cuidei com muito amor, com muito carinho, sendo usado inadequadamente por um proprietário de um depósito que hoje é vinculado com um dos maiores órgãos, né? Que é o Detran. E aí eu não consigo entender — lamenta.
Inquérito reaberto
O delegado regional em exercício, Juliano Stobbe, afirmou que um inquérito havia sido aberto para apurar o caso, mas foi arquivado por falta de provas.
Diante das novas evidências, o inquérito foi reaberto, com a constatação apurada previamente de que o veículo conduzido pelo dono do estabelecimento já tinha rodado cinco mil quilômetros após a apreensão. Uma “discrepância considerável”, segundo o delegado.
Suspensões de depósitos aumentaram
As sanções aplicadas contra os CRDs no Rio Grande do Sul mais que dobraram neste ano em comparação com o ano passado, segundo o Detran. Em 2024, foram oito suspensões temporárias, contra quatro em 2023.
Nos últimos sete anos, duas cassações de licença foram registradas. Além disso, as atividades de 88 depósitos foram suspensas por um período entre dois e 12 dias.
Nota do dono do depósito
Em razão da reportagem veiculada pela RBS TV no dia de hoje, o Sr. Juliano Borba da Silva, por meio de seus advogados, vem a público esclarecer que possui concessão regular para a operação do CRD há mais de 10 (dez) anos na cidade de Taquari. Durante todo esse período de atuação profissional, até o final do mês de outubro de 2024, não foi registrada qualquer irregularidade nas operações do CRD, fato que pode ser verificado junto ao próprio DETRAN/RS.
A concessão do CRD do Sr. Juliano foi obtida por meio de licitação pública, e o estabelecimento jamais foi fechado por qualquer motivo de ilicitude ou irregularidade. Vale destacar que essa concessão foi obtida em processo de licitação pública, e o estabelecimento nunca foi impedido de operar por qualquer razão de ilegalidade ou infração.
É importante enfatizar que as supostas irregularidades mencionadas na reportagem do “RBS Notícias” ainda estão em fase de apuração e, até o momento, não há qualquer conclusão definitiva que comprove a prática de ato ilícito. Dessa forma, as afirmações sensacionalistas, divulgadas na TV, sem embasamento conclusivo, desrespeitam o princípio da presunção de inocência e podem induzir o público ao erro.
Reiteramos que o Sr. Juliano está empenhado em proteger seu direito de defesa e que qualquer afronta aos princípios da dignidade humana e da presunção de inocência será questionada nos âmbitos competentes. Caso necessário, medidas judiciais serão adotadas para responsabilizar os responsáveis por abusos ou excessos na cobertura dos fatos.
Outrossim, o Sr. Juliano reafirma sua plena confiança na Polícia Civil, no Ministério Público e no Poder Judiciário, reiterando que as acusações mencionadas na reportagem da TV RBS já estavam sendo devidamente investigadas, muito antes da publicação da matéria, de forma séria, legal, justa e responsável pelos órgãos competentes. Ou seja, independentemente da veiculação da matéria jornalística sensacionalista exibida hoje, cujo único propósito parece ser, em nome da audiência, expor cidadãos à execração pública, as autoridades competentes já estavam cumprindo com seu dever de apuração e esclarecimento dos fatos.
Por ora, é isso que há para registrar, certos de que os fatos serão devidamente apurados e esclarecidos dentro da legalidade constitucional.