A Polícia Civil indiciou por sete crimes de assédio sexual e dois de importunação sexual um ex-diretor da Banrisul S.A Administradora de Consórcios. Oito mulheres registraram ocorrência na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) da Capital contra Gabriel Leal Marchiori. O Grupo de Investigação da RBS (GDI) revelou o caso em novembro passado.
A polícia entendeu que Marchiori teria praticado, entre 2017 e 2023, crime de assédio sexual contra sete mulheres e de importunação sexual contra duas - em relação a uma das vítimas, houve, segundo a investigação, a ocorrência dos dois crimes. Elas são funcionárias, uma ex-estagiária e uma então cliente do banco. A conclusão da investigação foi remetida à Justiça.
A próxima etapa é a manifestação do Ministério Público, que pode pedir arquivamento do caso, requerer mais diligências para a polícia ou entender que há elementos para que Marchiori seja denunciado pelos crimes apontados no inquérito.
A polícia não forneceu detalhes sobre a investigação. Em função de determinação aprovada em assembleia dos delegados, policiais não dão entrevista sobre o trabalho. O motivo da medida é a insatisfação com o reajuste proposto pelo governo do Estado.
O GDI, que teve acesso à conclusão do inquérito, apurou que oito mulheres fizeram registro na Deam e deram depoimento. Testemunhas foram ouvidas e indícios de provas, como conversas gravadas pelas vítimas e prints de trocas de mensagens, foram anexadas à investigação.
Com base no teor dos depoimentos, foi registrado no relatório de conclusão que o investigado "usa, na maioria das oportunidades, sua condição de diretor para humilhá-las e, de forma ardilosa, para não dizer fraudulenta, obter vantagens sexuais. Em resumo, o suspeito investe seu recurso em um longo processo de aliciamento, a partir do qual identifica os pontos fracos das vítimas como também as condições mais favoráveis para agir. Mostra-se extremamente gentil e amável, carinhoso e companheiro, atitudes que criam um vínculo de confiança diminuindo a resistência da vítima e confundindo sua percepção, com o intuito de concluir o abuso."
Quando o GDI revelou o caso envolvendo o então diretor da Banrisul S.A Administradora de Consórcios, 13 mulheres haviam feito relatos sobre supostas investidas com viés sexual, convites para sair, pedidos de fotos do corpo, exigências sobre atitudes que deveriam ter em viagens a serviço, orientações sobre tipo de roupa a usar no trabalho, toques e casos de humilhação a quem não agia conforme as orientações.
À época, os relatos foram reunidos e enviados ao Ministério Público do Trabalho (MPT) pelo Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários). Um inquérito civil tramita em sigilo no MPT para apurar as queixas.
As suspeitas em relação ao suposto comportamento inadequado do então diretor vieram à tona depois que uma estagiária contou que Marchiori a teria forçado a mostrar tatuagens que tem entre os seios e nas nádegas, dentro da sala dele. Ele também a teria tocado. Ela registrou o suposto fato no canal de denúncias do Banrisul, que é o controlador da Administradora de Consórcios. A partir disso, outras mulheres passaram a denunciar situações semelhantes.
O Banrisul destituiu Marchiori do cargo de diretor e, depois de concluir apuração interna, desligou-o do quadro do banco por justa causa. Como Marchiori não é mais funcionário do banco, a instituição preferiu não se manifestar sobre as conclusões da polícia.
Na conclusão do inquérito da Deam, foi registrado: "Conforme todo o exposto, as versões das vítimas mostram-se coerentes, coesas e de acordo com os elementos constantes dos autos. Os relatos guardam semelhança, traçando um perfil do suspeito, bem como seu modus operandi. Destaco que a palavra da vítima nos crimes sexuais que, em sua maioria, ocorre na clandestinidade, é forte elemento de convicção se aliada a outros elementos que indiquem a ocorrência de crime. No caso em epígrafe, a palavra das vítimas integra o conjunto probatório ajustado, sem elemento que contraste."
Contraponto
O que disse Cássio de Assis, um dos advogados de Gabriel Leal Marchiori:
A defesa se manifestará nos autos, que ainda tramitam sob sigilo em relação a todas as informações nele contidas. Atualmente, o expediente aguarda avaliação do Ministério Público.