A Polícia Civil abriu inquérito para investigar suspeitas de assédio sexual que teria sido praticado por um então diretor da Banrisul S.A Administradora de Consórcios. Um registro foi feito esta semana e encaminhado para a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) da Capital. A comunicante da ocorrência integra um grupo de 13 mulheres que já relataram seus casos ao Ministério Público do Trabalho (MPT).
Na manhã desta quinta-feira (30), pelo menos mais duas delas fizeram ocorrência. Elas ainda não haviam registrado os episódios que contam ter vivido no trabalho com o então diretor Gabriel Leal Marchiori, mas decidiram levar o assunto à Deam depois de o Grupo de Investigação da RBS (GDI) noticiar as histórias.
— Abrimos o inquérito e aguardamos se outras vítimas vão registrar — disse a delegada Cristiane Ramos, titular da Deam.
O grupo é composto por funcionárias e ao menos uma cliente que narram supostas investidas com viés sexual, convites para sair, pedidos de fotos do corpo, exigências sobre atitudes que deveriam ter em viagens a serviço, orientações sobre tipo de roupa a usar no trabalho, toques e casos de humilhação a quem não agia conforme as orientações. Os fatos começaram a vir à tona a partir do relato de uma estagiária, que contou que Marchiori a teria forçado a mostrar tatuagens que tem entre os seios e nas nádegas, dentro da sala dele. Ele também a teria tocado.
Ela registrou o suposto fato no canal de denúncias do Banrisul, que é o controlador da Administradora de Consórcios, no começo de outubro. Em 10 de novembro, Marchiori, 38 anos, foi destituído da função. Ele integrava o alto escalão da administradora, mas não no comando do banco. Uma apuração interna está sendo feita pelo banco.
Foi o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários) que levou os casos ao MPT. A instituição tem duas notícias de fato abertas para uma análise preliminar dos relatos das mulheres.
Contraponto
O que disse, em nota, Gabriel Leal Marchiori:
"Os fatos ventilados contra mim são infundados, desprovidos de provas e apurados dentro de um procedimento administrativo manifestamente inconstitucional, onde não me foi assegurado o direito à ampla defesa.
Recebo a notícia da abertura de investigação com tranquilidade , pois finalmente possuo uma oportunidade de demonstrar que os fatos não aconteceram, dentro do ambiente de uma apuração policial."
O que disse, em nota, o Banrisul sobre o caso:
"Não há espaço no Banrisul para a prática de qualquer ato de desrespeito entre as pessoas. A instituição possui valores e princípios que se firmam como pilares para a atuação de todos os nossos colaboradores, seja qual for seu cargo. O Código de Ética e de Conduta, especialmente, estabelece um conjunto de normas que são inegociáveis - orientando com clareza como deve se dar o relacionamento com o público interno e externo.
Em relação ao lamentável caso em questão, logo após o recebimento da denúncia, o banco iniciou uma apuração ampla e detalhada para esclarecer os fatos. A partir do conteúdo dos primeiros depoimentos, o Conselho de Administração já decidiu destituir o denunciado da posição de diretor da Banrisul S.A. Administradora de Consórcios, em 10 de novembro. Em cerca de 30 dias, o afastamento foi realizado.
Todos os cuidados estão sendo tomados para preservar a identidade dos envolvidos, de acordo com o que determina a Convenção Coletiva de Trabalho. O ex-diretor retornou à condição de empregado, sendo lotado na Unidade de Administração de Pessoas. Ele se encontra em licença para tratamento de saúde. Neste momento, as apurações seguem seu curso junto às instâncias administrativas internas, podendo motivar medidas adicionais às já adotadas.
Desde 2020, o Banrisul conta com uma área de acolhimento feminino institucionalizada para receber denúncias de situações de violência contra as mulheres. As comunicações recebidas por esse canal de atendimento são todas encaminhadas para as devidas apurações e providências. Ciente dos desafios que persistem, o banco reforça seu compromisso de aprimorar cada vez mais seus protocolos para garantir um ambiente de trabalho respeitoso e igualitário, em que a dignidade humana seja preservada a cada dia."