— Para assinar, cada um tem de dar 500 pila.
A fala é de um falso assessor da prefeitura de Canoas, suspeito de extorquir cerca de R$ 500 mil de um grupo de seis empresários da cidade, em troca de contratos que não existiam. Para ganhar a confiança das vítimas, Paulo Ricardo da Silva, o Paulinho, tirava fotos usando colete e crachá com logomarca do município. E montava falsos contratos, que tinham brasão oficial e nome do prefeito em exercício, Nedy de Vargas Marques (Progressistas).
Na semana passada, o advogado que representa as vítimas protocolou queixa-crime no Ministério Público, em Porto Alegre. O GDI teve acesso a áudios em que Paulinho detalha valores exigidos dos empresários.
— Então, ele veio com um contrato bem especificado. Bem detalhado. Para lermos, olharmos e assinarmos. Em troca, eu passei R$ 60 mil e o meu sócio deu R$ 55 mil — diz um empresário do ramo de alimentos.
A vítima chegou a assinar um contrato anual de R$ 89 milhões para servir refeições e café em repartições da prefeitura. Os empresários lesados relatam que era montado um teatro para formalizar a entrega dos contratos falsos. Isso acontecia dentro de uma subprefeitura, na presença de um servidor comissionado, que deixou o cargo em janeiro. Paulo Ricardo chegou a tirar foto com esse funcionário. O servidor se passava por secretário municipal na frente dos empresários.
O falso assessor também dizia ter ligações com o prefeito por ser cunhado de um de seus filhos. Em fotos, ele aparece instalando faixas de boas-vindas ao chefe do Executivo, por conta de sua posse, em janeiro. O prefeito Nedy de Vargas Marques denunciou o falso assessor à polícia ainda em fevereiro, quando foi procurado por um empresário vítima do golpe.
— Quando tomei conhecimento sobre este indivíduo, fiz contato com o procurador-geral do município e com o secretário da Segurança Pública da prefeitura, que elaborou um relatório técnico para a delegacia de polícia — relata o prefeito.
Nedy afirmou que não sabia que Paulo Ricardo era cunhado de seu filho.
Dois dias após ter procurado o prefeito, em 23 de fevereiro, o primeiro empresário a denunciar o falso assessor registrou ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia (DP) de Canoas. Mas as extorsões às outras vítimas continuaram pelo menos até a última sexta-feira, segundo o advogado Adão Paiani, que representa os empresários.
— Por acaso tu não consegue pra mim? Eu precisava de uns R$ 1,2 mil cara (...). É urgente homem, urgente — afirma Paulinho na gravação.
A Polícia Civil investiga se existem outras pessoas envolvidas nas extorsões e diz que, nos próximos dias, deve pedir medidas judiciais contra Paulinho. O Ministério Público informou que a apuração será feita pela promotoria de Canoas.
Procurado pelo GDI, Paulo Ricardo da Silva negou envolvimento em extorsões, disse que não usou o nome do prefeito para aplicar golpes e que nem sequer conhece o chefe do Executivo de Canoas.