O Hospital Lauro Reus, de Campo Bom, divulgou na manhã desta terça-feira (18) a conclusão da sindicância feita para apurar as circunstâncias da interrupção de oxigênio ocorrida em 19 de março e que causou a morte de seis pacientes internados e entubados devido à covid-19.
A conclusão é de que o fato de a empresa fornecedora de oxigênio — a Air Liquide — não ter reabastecido o tanque após ter sido solicitada, o que teria ocorrido no dia anterior, foi "determinante para o acontecimento do evento adverso". Ou seja, o hospital concluiu por falha da empresa na reposição de ar.
Apesar de citar que seria apurada também a "conduta de seus funcionários na aplicação dos planos de ação visando a garantia da vida de seus pacientes", a conclusão divulgada não menciona se alguma responsabilidade interna foi verificada. O documento resumido diz que:
"O relatório concluiu que houve a falta no reabastecimento de oxigênio líquido por parte da empresa, onde a mesma deixou transcorrer o prazo do sistema central de back up (sistema reserva de oxigênio gasoso medicinal)".
_ As famílias enlutadas tiveram a confirmação do que já imaginavam na conclusão da sindicância do hospital Lauro Reus de falta de oxigênio. Mas entendem a necessidade de aguardar as apurações imparciais, ainda em andamento, na Polícia, Ministério Público Estadual e Federal, bem como a CPI, uma vez necessária a apuração da responsabilidade de quem cometeu ato desconforme do procedimento exigido. Afinal, as famílias internaram seus entes e esperavam a recuperação e os cuidados com a vida destes, e não a tragédia que ocorreu _ diz a advogada Franciele Kozlowski, que atende familiares de vítimas.
O presidente da Associação Beneficente São Miguel (ABSM), que administra o hospital, o oncologista Rafael França, já havia revelado ao Grupo de Investigação da RBS (GDI) que faltara oxigênio no tanque principal e que a empresa não teria feito o reabastecimento. A conclusão da sindicância vem na mesma linha.
Apesar de a ABSM não querer dar mais detalhes, o resumo da sindicância indica que a Air Liquide foi comunicada no dia 18 de março sobre o baixo nível de oxigênio no tanque principal, o que exigiria o reabastecimento. Mas a reposição não teria ocorrido a tempo.
Com isso, o sistema reserva teria sido consumido e, então, ocorreu o problema de fornecimento aos pacientes entubados. Mas o trecho divulgado pelo hospital nesta manhã não esclarece se as duas baterias reservas foram consumidas ou se apenas uma delas — uma das hipóteses investigadas por autoridades é de que funcionários não souberam acionar a última reserva, o que aumentou o tempo de interrupção de oxigênio.
Seis mortes ocorreram durante o fato ou logo depois, mas autoridades investigam outros 15 óbitos registrados em dias posteriores e que podem ter relação com o episódio. Por fim, o hospital informou que romperá contratos com a Air Liquide e que ingressará com ação judicial para cobrar danos causados por ela.
GZH solicitou à assessoria do hospital mais detalhes da conclusão da sindicância, a fim de esclarecer se houve responsabilidades internas e se todo o sistema de back up foi usado, mas não obteve resposta.
Contraponto
O que diz a empresa Air Liquide:
"No dia 19 de março, a Air Liquide foi acionada pelo Hospital Lauro Reus para fornecer suporte técnico e auxiliar na ativação do sistema de backup de oxigênio. A equipe da Air Liquide prontamente ofereceu suporte remoto para a equipe de manutenção que estava no hospital para iniciarem com sucesso o sistema backup. Além disso, a Air Liquide forneceu ao hospital novos cilindros de oxigênio para complementar os reservas, que já estavam cheios e em operação quando eles nos contataram.
Atualmente, os fatos estão sendo investigados. A Air Liquide continua colaborando com o governo local, autoridades da saúde e com as investigações em questão".