A Associação Beneficente São Miguel (ABSM) chegou a Campo Bom em 2019 para assumir um hospital que passava por problemas financeiros, inclusive, com atraso de salários. Hoje, ela enfrenta dificuldades, tendo dívida de cerca de R$ 3 milhões com quase todos os fornecedores do Hospital Municipal Lauro Reus. No cartório da cidade, a associação tem 321 títulos protestados.
A ABSM fez a gestão do Lauro Reus em contrato emergencial por seis meses, a partir de outubro de 2019. Em março do ano passado, venceu licitação. Alegava experiência como administradora de hospitais em Porto Alegre e Canoas.
Nos meses que antecederam a tragédia da morte de seis pessoas por suposta interrupção no fornecimento de oxigênio a pacientes entubados, em 19 de março, a direção do hospital já vinha sendo cobrada pelo Conselho Municipal de Saúde a respeito das condições para manter o atendimento à população.
Os questionamentos estão registrados em atas. O temor era de que, com o cenário da pandemia e endividada, a associação não conseguisse fazer frente aos atendimentos necessários. Pessoas ligadas ao hospital contam que remanejo de pessoal estava sendo feito para tentar reduzir custos.
A prefeitura de Campo Bom repassa mensalmente ao Lauro Reus, em média, R$ 2,2 milhões. E, apesar da crise com as seis mortes e do endividamento do hospital, o Executivo se diz satisfeito:
— Soubemos das dívidas. Mas eles nunca deixaram de ter medicamentos e de pagar pessoal. Isso não está interferindo na questão do funcionamento do hospital. A gente acompanha. Eles precisam trazer comprovantes para receber os pagamentos mensais — explicou o prefeito Luciano Orsi (PDT) dias depois do incidente no hospital.
Em razão das seis mortes, o hospital, sob administração da ABSM, está sob investigação da Polícia Civil, do Ministério Público e do Ministério Público Federal, além de ser alvo de CPI instalada na Câmara de Vereadores e de uma auditoria feita pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). Nesta semana, o GDI divulgou com exclusividade apontamentos do relatório preliminar da auditoria.
A apuração da SES apontou que, no dia das mortes, faltou oxigênio no tanque principal do hospital e que o sistema reserva demorou para funcionar. Por isso, pacientes entubados ficaram sem receber ar.
Contraponto
O que diz Rafael França, presidente da ABSM
"As dívidas são decorrentes do aumento de valores de produtos na pandemia, uma situação semelhante a todos os hospitais. E que isso não interferiu nos atendimentos nem tem ligação com o episódio das mortes."