Negociado pelo Inter à Roma ao final de 2015, Alisson ainda era um promissor goleiro quando foi vendido por cerca de 5 milhões de euros. O atual goleiro da Seleção Brasileira ainda conquistou o Gauchão de 2016 pelo Inter, antes de embarcar para a Itália. Segundo as investigações do Ministério Público, empresários envolvidos em negociações de jogadores teriam depositado valores de R$ 5 mil a R$ 15 mil na conta do então vice de futebol Carlos Pellegrini, durante a gestão Piffero, entre 2015 e 2016.
No caso da transferência de Alisson, o empresário Rogério Braun atuou como intermediário no repasse para o clube italiano, no começo de 2016. Pelo seu trabalho, Braun recebeu sua comissão em duas parcelas. A primeira, de R$ 372.610,70, teve cheque compensado na conta do Inter, no Banrisul, em 26 de fevereiro daquele ano. A segunda parcela foi quitada em cheque de R$ 293.770,09, depositado por Braun no dia 31 de outubro.
Conforme apurou o MP, nos dias subsequentes teriam sido feitas pelo empresário duas TEDs (transferências bancárias) para a conta de Carlos Pellegrini. A primeira, de R$ 15 mil, em 9 de novembro de 2016, e a outra, de R$ 5 mil, no dia seguinte. Um detalhe: Pellegrini havia deixado o cargo de vice de futebol do Inter havia 101 dias. Naquele começo de novembro, o Inter lutava de forma desesperada contra um rebaixamento que se desenhava inevitável. Enquanto esteve no comando do futebol colorado, Pellegrini teria obtido mais de R$ 230 mil em comissões para concretizar negociações de jogadores.
Rogério Braun se envolveu na transferência de Alisson sob o argumento de que, à época, Zé Maria, empresário e dono de parte dos direitos do goleiro, não era um agente Fifa - e, por isso, não poderia participar da negociação. Braun foi acusado pelo MP por estelionato de forma cumulativa (concurso material).
Ele teria atuado em conluio com Carlos Pellegrini para lesar o Inter nas negociações que envolveram Alisson, Cláudio Winck e o argentino Ariel.
Braun, através de seu advogado, Aury Lopes Júnior, emitiu a seguinte nota sobre as denúncias:
— A defesa do Rogério não concorda com a denúncia. Entendemos que o Ministério Público fez uma interpretação equivocada dos fatos em relação a ele e vamos comprovar no processo que ele não praticou nenhum crime, nenhuma ilegalidade e que ele é completamente inocente destas acusações, que são frutos de uma incompreensão da situação por parte do Ministério Público em relação à participação dele.
De acordo com a apuração do MP, não há indícios de que o goleiro Alisson tenha relação com as supostas negociatas entre agentes e dirigente. Procurados por GaúchaZH, o empresário de Alisson, Zé Maria — que também tinha parte dos direitos do jogador —, e a assessoria de imprensa do goleiro, a Triple Comunicação, não se manifestaram.
Até o fim da tarde dessa quarta-feira (6), a denúncia envolvendo a transferência de Alisson para a Roma ainda não havia tido repercussão na imprensa europeia.
Entenda os outros casos
A contratação do atacante argentino do Portland Timbers (EUA) para o Inter não teria participação de empresários, segundo apurou o MP. Em 20 de junho de 2016, foi assinado termo de compromisso do clube com o atleta e, uma semana depois, firmado o contrato definitivo, sem envolvimento de intermediários. Entretanto, em 22 de julho, o Inter se comprometeu a pagar comissão a R. Braun, empresa de Rogério Braun. Ficou acertado que a empresa receberia R$ 495 mil em duas parcelas, entre agosto e setembro. Mas nem os valores nem as datas se confirmaram, de acordo com o MP. Em 19 de dezembro, o Inter pagou R$ 243,7 mil para a R. Braun, que teria repassado R$ 50 mil para Pellegrini. A primeira parte, R$ 15 mil, ocorreu em 23 de dezembro, a segunda, de R$ 20 mil, em 27 de dezembro, e a terceira, de novo de R$15 mil, em 22 de fevereiro de 2017, 53 dias depois da Gestão Piffero deixar o comando do Beira-Rio. Leia mais aqui.
A renovação de contrato do lateral Cláudio Winck rendeu R$ 98,5 mil para a R.Braun, pagas em duas parcelas iguais entre 15 de abril e 2 de maio de 2016. Dois dias depois de receber a segunda parte do dinheiro, a R. Braun teria transferido R$ 30 mil para a conta bancária pessoal do dono da empresa, Rogério Luiz Braun. Em 5 de maio, ele teria repassado R$ 20 mil para a conta de Pellegrini. Relembre.
A negociação de Paulo Cézar Magalhães
A contratação do lateral-direito Paulo Cézar Magalhães foi concluída em 21 de dezembro de 2015 e, conforme denúncia feita nesta terça-feira (5) pelo Ministério Público, com um contrato com cláusula de bonificação de R$ 150 mil para o tio e empresário homônimo do jogador, Paulo Cézar Magalhães. Dois dias depois, o Inter efetuou o pagamento para a conta de Antonio Carlos Pereira. Posteriormente, o valor foi sacado e depositado na conta de Carlos Pellegrini no dia 28 de dezembro daquele ano. Em contato telefônico com GaúchaZH, Paulo Cézar Magalhães, tio do lateral, negou que tenha dado propina para Pellegrini.
— O Pellegrini me falou que eu tinha que repassar o valor para ele pagar os empresários. Foi o que eu fiz, tanto que depositei o dinheiro para pagar eles, mas na verdade ficou para ele. Nunca iria desconfiar que ele estava fazendo alguma coisa errada — disse.
A vinda de Réver
A contratação do zagueiro Réver ao Atlético-MG, que teve Giuliano Bertolucci como representante e Fernando Otto como intermediação, também foi apontada na investigação do Ministério Público. Parte dos direitos do atleta pertencia ao Coimbra-MG, clube que tem o empresário paulista como parceiro econômico. Esse foi o primeiro repasse de valores detectado pela investigação. Desta negociação, R$ 118.999,00 das quantias supostamente destinadas ao referido clube/empresa e à Atividade, empresa de Otto, foram repassadas, por meio de operações bancárias, ao dirigente Carlos Pellegrini. Giuliano Bertolucci, citado na denúncia do Ministério Público, reforçou sua retidão em negociações e negou as denúncias:
— Estou há 25 anos no mercado e jamais tivemos qualquer problema nesse sentido. Cumpre esclarecer que compareci na audiência e prestei as informações que me foram solicitadas. Estou à disposição da Justiça para prestar todos os esclarecimentos necessários e deixar evidente que tudo que eu fiz, foi dentro da lei e dentro das normas tributárias vigentes.
Já Jonatas Silva de Souza, advogado de Fernando Otto, disse que só irá se pronunciar após ter acesso aos autos do processo:
— Nós só vamos nos pronunciar após ter acesso integral ao teor da denúncia.