Um dos focos da investigação da Polícia Civil na Operação Repouso Absoluto será, a partir de agora, rastrear os atestados médicos usados por Luís Fernando Coimbra Albino. O servidor da Assembleia Legislativa é suspeito de fazer atividades fora do parlamento em períodos em que alegou estar doente e sem poder trabalhar. Ao cumprir buscas no apartamento dele, policiais encontraram um atestado assinado em branco em nome do cirurgião vascular Nilo César Mandelli.
Durante as buscas, a polícia também apreendeu dois carros de Albino por suspeita de lavagem de dinheiro. Um deles, um Volvo ano 2017, está em nome da mãe dele.
Albino apresentou, desde 2017, pelo menos 11 atestados médicos alegando enfermidades que permitiram que ele ficasse 131 dias, não contínuos, afastado das funções no parlamento. Seria de Mandelli a maior parte destes documentos. Assim como Albino, o médico também é filiado ao Solidariedade e já concorreu a uma vaga na Câmara de Vereadores de Porto Alegre.
Mandelli e Albino não são apenas colegas de partido. Quando respondeu a uma ação junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o médico teve o servidor da Assembleia como advogado de defesa.
Chamou a atenção da polícia a quantidade de atestados em nome de Mandelli apresentados por Albino ao Departamento de Gestão de Pessoas (DGP). O delegado Max Otto Ritter, da Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública e Ordem Tributária (Deat), disse que atestados com assinatura que seria de Mandelli e carimbo do médico aparecem com o texto em grafias diferentes. Não está descartado que alguma informação tenha sido falsificada, mas o fato é que a folha em branco do atestado apreendido é oriunda da clínica de propriedade de Mandelli.
O Grupo de Investigação da RBS flagrou Albino em atividades quando, perante a Assembleia, ele estava doente e impossibilitado de trabalhar. Ele participou de eventos partidários, viagens e até de audiências judiciais, já que é advogado. Para o delegado, se estava doente para cumprir suas funções como servidor público, Albino não poderia realizar outras tarefas.
O presidente estadual do Solidariedade, vereador Cláudio Janta, disse que Albino será imediatamente afastado da direção do partido, já que atuava como diretor jurídico.
— Não vamos acobertar. Queremos que fatos sejam apurados. Ele tem mais de 30 anos de carreira na Assembleia. Já foi de gabinetes e comissões, o que permitia que saísse para atividades. Nunca imaginamos que agisse de má-fé. Quando estava comigo, e até em viagem, sempre dizia que estava de licença ou de folga da Assembleia. Nunca me disse que estava doente — afirmou Janta.
Por meio de nota, ele reafirmou, durante a tarde, que não tem vínculos com o servidor:
“Não possuo nenhum vínculo com o servidor citado. Tenho uma trajetória digna e uma responsabilidade como homem público que não me permitem ficar calado e passivo diante de uma desrespeitosa veiculação do meu nome, que tenta macular a minha história e minha imagem”
Contraponto
O que diz o cirurgião Nilo César Mandelli:
"O Albino é meu paciente, tem uma doença crônica e eu o trato, acho que já faz dois ou três anos. Mas eu nunca dei atestado em branco. Quanto a grafias diferentes, às vezes, a secretária preenchia e só me dava para assinar. Sou filiado, mas desde a eleição para vereador não participei mais de atividades partidárias."
GaúchaZH tentou falar com Luís Fernando Coimbra Albino durante a operação, mas ele não quis se manifestar