O inquérito da Polícia Federal (PF) que apura eventuais crimes contra o sistema financeiro no caso Badesul, encorpado por relatórios de outras instâncias de fiscalização, traz informações que ampliam a quantidade de empresas que tomaram empréstimos e, depois, não efetuaram o pagamento das parcelas, deixando o prejuízo com o banco de fomento gaúcho.
Um dos documentos diz que o Badesul, entre 2011 e 2014, chegou a fazer empréstimo para um negócio que já estava de portas fechadas. O valor do financiamento foi de R$ 1,5 milhão e, quando o dinheiro foi repassado, a empresa estava desativada, assegura documento de análise técnica que faz parte do inquérito da PF. Posteriormente, a beneficiada pelos valores, uma cerealista do setor agrícola, entrou em inadimplência no financiamento.
Entre os demais casos apurados no inquérito, estão os empréstimos tomados por Wind Power Energia (R$ 50 milhões), Iesa Óleo de Gás (R$ 40 milhões) e D'Itália Móveis (R$ 10 milhões), revelados em reportagem de Zero Hora em setembro de 2016. Depois de receber os recursos do banco, as três entraram em processo de recuperação judicial.
Nos processos de concessão dos empréstimos, houve, na gestão do Badesul que atuou durante o governo de Tarso Genro, negligência nas análises de risco, pressões para liberação de operações em tempo recorde, aceitação de garantias bancárias insuficientes ou inexistentes e elevação artificial das notas dos clientes – o chamado "rating". Essas são as conclusões do Ministério Público (MP) e da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), que analisou as transações em sindicância.
O caso considerado mais grave é o da Wind Power, que sequer construiu a fábrica de geradores eólicos em Guaíba, projeto com o qual ela conseguiu a liberação do saque do montante. O destino dos R$ 50 milhões é desconhecido.
Após iniciativa do MP, seis pessoas ligadas à gestão do Badesul, sendo quatro delas ex-dirigentes, se tornaram réus em ação civil pública por improbidade administrativa. O promotor Adriano Marmitt, que elaborou a peça inicial em colaboração com a procuradora do Estado Adriana Krieger, requer a devolução de R$ 99,8 milhões ao banco pelos acusados somente pelos prejuízos na operação com a Wind Power. Os casos da Iesa Óleo e Gás e da D'Itália Móveis também estão sob análise, mas ainda não houve ajuizamento de denúncia.
Recentemente, documentos e conclusões do MP foram compartilhados com a PF, que apura o caso na sua Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros (Delecor).
OPERAÇÕES DE RISCO
- No governo Tarso Genro (PT), de 2011 a 2014, o Badesul multiplicou a liberação de financiamentos para clientes de risco.
- A política resultou em calotes porque parte das empresas não fez os investimentos projetados nem pagou as prestações.
- A aposta do governo era injetar recursos na modernização da economia do Estado, mas houve equívocos de avaliação de garantias, concentração de empréstimos em poucos clientes e baixas taxas de rentabilidade.
- Três exemplos de inadimplência são os financiamentos à Iesa Óleo e Gás, à Wind Power Energia e à D’Itália Móveis.
- O Banco Central pediu explicações sobre as operações com a Iesa e a Wind Power. O TCE abriu duas inspeções extraordinárias.
- Após ZH revelar as operações de risco e os calotes sofridos pelo Badesul, o Piratini abriu sindicância, coordenada pela Procuradoria-Geral do Estado (PGE).
- O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) rebaixou, em 14 de setembro de 2016, a nota da agência gaúcha a zero, impossibilitando a captação de recursos da instituição federal. Isso praticamente inviabilizava o Badesul, que busca 98% dos seus capitais no BNDES.
- No dia 28 daquele mês, o Badesul apresentou plano de contingência e recuperou a nota de 2,2, o que garantiu margem para tomar cerca R$ 130 milhões no BNDES.
-Em 13 de março de 2017, a sindicância da PGE responsabilizou 23 pessoas, a maioria por improbidade administrativa, pelas falhas nos contratos de financiamento.