O Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, o Harmonia, em Porto Alegre, começou a receber neste sábado (12) as primeiras famílias e os caminhões carregados com toras de madeira, espetos de churrasco, geladeiras e até colchões. Trata-se do início da montagem dos piquetes do Acampamento Farroupilha 2023, que foi dividida em três etapas neste ano em função da liminar na Justiça que paralisou as obras no local e atrasou por cinco dias a preparação para o evento.
Para a presidente da Comissão Municipal dos Festejos Farroupilhas, Liliana Cardoso, o momento é "muito emocionante":
— O acampamento, com seus 41 anos, está fincando o garrão aqui no coração da nossa Capital.
Na primeira fase da montagem do acampamento, a previsão é de que 122 piquetes sejam erguidos. Na quarta-feira (16), mais 69 estruturas serão levantadas. E, até o próximo sábado (19), a estimativa é de que o restante esteja em construção.
No total, 232 piquetes serão erguidos no parque até 30 de agosto. Um dia depois ocorrerá a vistoria oficial do Corpo de Bombeiros para liberação do Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndios (PPCI).
E, apesar de no calendário a festa dos gaúchos ter início apenas em 1º de setembro, no acampamento, na prática, os festejos já começaram.
— Muitas famílias já vêm para ficar. Tem churrasco assando a partir de agora também — afirma Rogério Lara, presidente da Associação dos Acampados da Estância da Harmonia (Acamparh).
Há 35 anos frequentando o Harmonia, a família de Otacílio Souza Soares, mais conhecido como Xirú, é uma delas. Seis familiares chegaram cedo do bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, para começar a instalar o piquete no local.
— A gente espera bastante gente. Geralmente, o nosso piquete é muito procurado. De noite, sábado e domingo, é lotado. Colocamos 10 churrasqueiras e aí tu traz a tua carne, assa e compra a nossa bebida — diz Xirú.
Na programação artística do acampamento, o piquete da família vai encenar a história da "Cabo Toco", como era conhecida Olmira Leal de Oliveira, a primeira mulher gaúcha a ostentar a farda da Brigada Milita.
Além dessa apresentação, outras 119 estão previstas na programação dos 2o dias de acampamento — aliás, novidade em relação a edições anteriores. A abertura para a população e os shows já ocorrem a partir de 1º de setembro.
Quanto ao volume da programação, Liliana pondera:
— Poderia ter sido muito mais robusta, mas o projeto não passou na Lei de Incentivo à Cultura. Foi reprovado e tivemos que readequar com uma suplementação do poder público. Tínhamos em torno de quatro shows por dia. Este ano teremos dois.
No ano passado, foram 230 piquetes no Acampamento Farroupilha, com 5 mil profissionais envolvidos, mais de cem apresentações culturais e 800 toneladas de churrasco consumidas pelos presentes.
O impasse judicial
A decisão que levou à suspensão imediata das obras no Harmonia partiu da 10ª Vara da Fazenda Pública. A alegação foi de que as obras no local envolviam diversos "danos ambientais, paisagísticos e ao patrimônio cultural no Parque Harmonia, bem como a omissão do Município de Porto Alegre em fiscalizar".
A polêmica também tratou da extração de 103 árvores no parque. Havia 1.253 exemplares antes do começo das intervenções da GAM3 Parks, que venceu a licitação para administrar conjuntamente o Harmonia e o trecho 1 da orla do Guaíba por 35 anos. A concessionária alega que das 103 árvores extraídas, 40 estavam em estado fitossanitário ruim e duas, mortas.
A concessionária e a Associação dos Acampados da Estância da Harmonia (Acamparh), então, entraram com recursos na Justiça para reverter a situação. A prefeitura da Capital também apresentou ao Poder Judiciário um pedido para reconsiderar a decisão.
Por fim, decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul acabou derrubando a liminar da 10ª Vara da Fazenda Pública que impedia a sequência das obras realizadas pela empresa GAM 3 Parks.