O potencial do Rio Grande do Sul na produção de energias limpas, como a fotovoltaica (energia que usa a radiação solar) e a eólica (que usa a força dos ventos), tem sido cada vez mais explorado. Importantes para a promoção da transição energética, essas fontes podem crescer ainda mais no Estado.
Em agosto, o Sindicato das Indústrias de Energias Renováveis (Sindienergia-RS) lançou o programa Todas as Energias, que tem como objetivo contribuir com a retomada do Estado após as enchentes, "por meio de um setor elétrico de baixo carbono e utilizando todas as fontes renováveis de energia disponíveis por aqui".
Pensado em duas fases, a ideia da iniciativa é que a curto prazo a capacidade de conexão aumente de 3,8 GW (gigawatt) para 8 GW. Os investimentos imediatos incluem 2 GW em projetos com outorga, resultando em R$ 14 bilhões investidos e 9 mil novos empregos, podendo gerar R$ 105 milhões em tributos, R$ 660 milhões em receitas anuais e evitando a emissão de 2,7 milhões de toneladas de CO².
A longo prazo, até 2040, a previsão é que haja um aumento de demanda para 30 GW em novos projetos de todas as fontes, evitando 1,7 bilhão de toneladas de CO² — dióxido de carbono, um dos principais gases de efeito estufa — no Ambiente.
— Estamos conversando com os governos estadual e de municípios para adotar um posicionamento estratégico em prol do desenvolvimento sustentável e de redução de custos, e passar a adquirir energia nova. Os consórcios de municípios poderão adquirir energia no mercado livre e, fazendo isso, além de fomentar o mercado de energia, poderão ter redução direta desse custo. É um benefício direto para o ambiente e para a sociedade — explica a presidente do Sindienergia-RS, Daniela Cardeal.
De acordo com o engenheiro e mestre em Engenharia Elétrica, Odilon Francisco Pavón Duarte, o RS tem grande potencial para geração de energia limpa:
— Todo o nosso litoral é muito bom para a geração de energia elétrica. (...) O RS tem um grande potencial tanto solar quanto eólico. Claro que se compararmos com outras partes do Brasil, no caso da solar, o melhor local para se instalar esse sistema é no interior do Piauí, no norte da Bahia, que é onde há maior insolação. Porém, há um diferencial: o Rio Grande do Sul está mais próximo ao centro de consumo do que o Nordeste. A gente pode economizar no custo do sistema de transmissão, por estar mais perto.
Um dos gargalos desta área, no entanto, é a necessidade de mão de obra qualificada.
— Hoje, no mundo, temos aproximadamente 15% de energias renováveis e temos que chegar até 2050 com mais de 90% para que a gente consiga manter o planeta em ordem. Para acontecer toda essa transição, vamos precisar do apoio dos governos e também mão de obra especializada. Essa engrenagem só vai ser movimentada através de pessoas — diz Duarte.
O especialista observa que as próprias concessionárias estão com dificuldade para ter profissionais capacitados para desenvolver os seus produtos, desenvolver as técnicas, ter manutenção, instalação de novos sistemas.
— Veja, qualquer tipo de chuva, a gente tem apagões, temos faltas de energia. Muitas vezes isso está associado à falta de experiência, de expertise da equipe técnica para resolver rapidamente esse problema — acrescenta.
“Uma fonte justa”
Segundo Daniela Cardeal, a capacidade de produção da energia eólica pode ser maior que a solar, porém esta última teve grande adesão da população, o que deve continuar crescendo e ajudando na transição
— Os números da eólica acabam tendo um percentual de participação muito grande porque os projetos são gigantescos em relação às outras fontes. A solar hoje é menos eficiente, mas ela é uma fonte que a sociedade aceitou muito bem. Ela deixou mais fácil esse acesso e universalizou a possibilidade das pessoas ajudarem diretamente na transição energética. É uma fonte justa — completa a presidente do Sindienergia-RS.
Quantidade de emissão de cada fonte
O engenheiro Odilon Duarte salienta que a energia eólica é a mais limpa, enquanto os combustíveis fósseis são aproximadamente 130 vezes mais poluentes:
- Energia eólica: gera 7 gramas de CO² equivalente por quilowatt-hora.
- Energia hídrica: em torno de 15 gramas de CO² equivalente por quilowatt-hora.
- Energia solar: em torno de 33 gramas de CO² equivalente por quilowatt-hora.
- Combustíveis fósseis: gera 921 gramas de CO² equivalente por quilowatt-hora.