O agro segue sendo o setor com maior faturamento entre os segmentos do cooperativismo — foram R$ 48,6 bilhões em 2023, o que corresponde a 56,3% do faturamento dos sete ramos (veja mais abaixo). No entanto, as cooperativas de crédito foram, novamente, as que mais cresceram no último ano, em termos percentuais, registrando faturamento de R$ 24,2 bilhões, valor 29,3% maior do que o registrado em 2022. As informações são do estudo Expressão do Cooperativismo Gaúcho 2024, do Sistema Ocergs-Sescoop/RS (ano-base 2023).
A pesquisa ainda aponta que o setor está presente em praticamente todos os municípios gaúchos, sendo a área com mais associados, registrando 77% do total. As cooperativas de crédito também tiveram um aumento de 26% nas sobras, com o total de R$ 3,5 bilhões.
Segundo o superintendente do Sistema Ocergs, Gerson Lauermann, as cooperativas de crédito conseguiram superar desafios, que advêm desde a pandemia até os problemas de efeitos climáticos ocorridos no estado nos últimos anos.
— Mesmo diante destas dificuldades, o cooperativismo permanece atuante nas comunidades e contribui para a economia do Rio Grande do Sul. Em especial, as (cooperativas) de crédito, que possuem uma proximidade muito grande com os seus associados, o que demonstra uma confiança e presença representativa — destaca.
De mãos dadas com o agro
Em relação ao crescimento de 2023, Lauermann salienta que as cooperativas deste ramo se constituem como uma opção para obtenção de serviços financeiros, principalmente nas regiões do Alto da Serra do Botucaraí, do Vale do Taquari, do Celeiro, das Missões, do Nordeste e do Vale do Caí. Outro fator apontado é referente à expansão dos serviços destas cooperativas para outros Estados.
O executivo do Sistema Ocergs também ressalta a grande parceria com as cooperativas agropecuárias.
— Não dá para realizar uma safra sem o apoio das cooperativas de crédito. É algo bem representativo pelo que percebemos — pontua.
É o caso da Sicredi União RS/ES que, segundo o presidente da cooperativa, Sidnei Strejevitch, é parceira do agronegócio há mais de um século. O executivo comenta que o Sistema Sicredi é o segundo maior financiador do agronegócio e o principal agente no repasse de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
— Para o Plano Safra 2024/2025, o Sistema Sicredi disponibilizará mais de R$ 38 bilhões. Destes, a Sicredi União RS/ES disponibilizará em torno de R$ 3 bilhões em recursos para os associados anteciparem a compra de insumos, máquinas e implementos para as produções agrícolas. Além de investimentos e seguros — diz.
Em 2023, a Sicredi União RS/ES contou com a participação ativa de mais de 222,6 mil associados. A carteira de crédito chegou a R$ 4,9 bilhões — valor 18,9% maior do que em 2022 — e seu patrimônio líquido cresceu em 22,7%.
— O olhar local nos possibilita estar próximos dos associados, das comunidades, realizando ações e programas de desenvolvimento da educação, como o Programa A União Faz a Vida e Cooperativas Escolares; de desenvolvimento local, como o Fundo Social que apoia projetos de entidades sem fins lucrativos voltados à saúde, segurança, meio ambiente, educação e cultura — enfatiza Strejevitch.
Quanto aos planos da cooperativa, a expectativa é de seguir crescendo, seja nos canais físicos ou digitais. Além disso, a cooperativa deseja ampliar a sua atuação no Espírito Santo. Para 2025, estará em 14 municípios com agência, dos 22 municípios de área de atuação. Já no Rio Grande do Sul, continuará modernizando as estruturas físicas nos 39 municípios em que atua.
Expansão
Alinhada a esse momento favorável das cooperativas de crédito, a Unicred Ponto Capital obteve, nos últimos dois anos, mais de 30% de aumento em sua base de cooperados, um incremento de 110% em seu capital social e um crescimento da carteira de crédito acima de 58%. Em 2023, ultrapassou R$ 1 bilhão de recursos administrados.
Conforme comenta o diretor executivo da Unicred Ponto Capital, Emerson Irion de Oliveira, a cooperativa também passa por um processo de expansão além das fronteiras do Estado, iniciado em 2020. Atualmente, tem atuação nas capitais nordestinas Recife, Maceió e João Pessoa.
— A solidez dos negócios da região centro-oeste do Rio Grande do Sul, em que possui atuação consolidada desde sua fundação, contribuiu para que a capilaridade da cooperativa fosse um fator relevante no crescimento dos indicadores internos — acrescenta.
Apesar do planejamento estratégico sistêmico da Unicred ter como principal pilar o ecossistema da saúde, a Unicred Ponto Capital reconhece a importância do setor agropecuário para a economia brasileira, especialmente no Rio Grande do Sul, que tem em sua base cooperados da área.
Desafios pela frente
De acordo com o superintendente do Sistema Ocergs, o ano de 2024 deve apresentar uma retração considerável de faturamento como resultado da enchente que atingiu o Rio Grande do Sul em maio e afetou os mais diversos segmentos.
— No primeiro semestre, principalmente na região Noroeste, onde temos uma grande participação das cooperativas agropecuárias, a colheita estava praticamente realizada, mas, na Metade Sul, tinha muito produto ainda para colher e muitos foram perdidos totalmente, o que trará impactos — analisa.
Lauermann ainda destaca como efeitos os reparos de estruturas tanto das cooperativas como das malhas viárias pelo Rio Grande do Sul. No caso das cooperativas de crédito, não será diferente, muito devido à economia gaúcha, mas, em contrapartida, o que deve ajudar a recuperar suas receitas é o acesso ao Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). Na visão dele, o princípio do cooperativismo, a união, será ainda mais aplicado.
— Como exemplo, tivemos no Vale do Taquari um dos principais focos desta catástrofe, com danos muito grandes de infraestrutura. Cooperativas e associados de outras regiões ajudaram bastante. Portanto, será preciso ainda mais cooperação para enfrentar essa situação de calamidade e de necessidade de desenvolvimento — conclui.
Cooperativismo de crédito no RS nos últimos anos
Ingresso
- 2022: R$ 18,3 bi
- 2023: R$ 24,2 bi
Sobras
- 2022: R$ 2,7 bi
- 2023: R$ 3,5 bi
Os sete ramos do cooperativismo
- Agropecuário
- Crédito
- Saúde
- Infraestrutura
- Transporte
- Trabalho, Produção de Bens e Serviços
- Consumo