Não é só a Lagoa dos Patos que avança sobre a cidade de Rio Grande. Neste domingo (12), o Saco da Mangueira, enseada semifechada que tem conexão com a lagoa, avançou sobre diversas ruas, causou alagamentos e desabrigou pessoas.
O vento leste estava soprando forte, fator que levou a água do Saco da Mangueira a avançar. Em alguns locais em que muretas protegem a via pública, a água estourava com força nas contenções e respingava ao longe.
Na Rua Teófilo Azevedo, estreita via de chão batido, o Saco da Mangueira avançou por cerca de 100 metros, atingindo diversas moradias. Havia movimentação de moradores retirando pertences das casas.
Angela Perazzo, 64 anos, teve de deixar a sua casa na rua. Ele acredita ter perdido armário e fogão.
- Tive de abandonar. Estava com água pelo joelho. Nunca vi isso aqui - lamenta Angela.
Ela estava abrigada na mesma rua, na residência de um familiar que fica próxima do encontro com a Avenida Santos Dumont, parte mais alta.
No lar provisório, a água estava encostada na soleira da porta principal, mas não havia alagamento do lado de dentro. Junto de vizinhos, Angela reclama que a rua não dispõe de bocas de lobo adequadas para escoar a água de alagamentos.
Na mesma rua, Ben-Hur Sousa Martins, 68 anos, estava de faxina no início da noite de domingo. Na frente da casa dele, a água estava batendo na canela. Dentro da residência, chegou a entrar uma lâmina de cinco centímetros. Munido de vassoura, pano e balde, removia sujeira, lama e água. Secava pequenas poças.
Pela parede, a umidade subia e deixava marcas. Até o momento, com a inundação moderada no seu lar, Martins não perdeu nada. Ele contou com ajuda de vizinhos para erguer a geladeira e fez o mesmo com aparelhos eletrônicos. Habitante da rua há 64 anos, Martins assegura jamais ter visto o Saco da Mangueira tão elevado.
- São vários fatores ali. A lagoa está alta e se comunica com o Saco da Mangueira. E o vento leste. Isso faz a água invadir essa parte da cidade - diz Sérgio Webber, vice-prefeito e coordenador da Defesa Civil de Rio Grande.
Moradores da Rua Teófilo Azevedo que residem no fundo da via, mais perto do Saco da Mangueira, foram desalojados. O cenário repete o que tem acontecido nas demais regiões de Rio Grande: as cotas de inundação costumam se limitar a um metro ou pouco mais. Não há cenários como os de cidades da Região Metropolitana ou do Vale do Taquari, em que casas ficaram inteiramente submersas ou próximas disso.
A região do Centro de Rio Grande está com algumas ruas bloqueadas por conta de alagamentos localizados. Um deles fica no entorno das ruas Apelles Porto Alegre e Senador Salgado Filho, onde a água alcança a canela. É um ponto mais baixo que formou uma bacia no espaço de um quarteirão. É possível observar que a superfície é mais alta nos pontos em que a enorme poça termina.
- Nossa topografia é curiosa. Temos locais na cidade mais baixos do que o nível da lagoa. Temos bombas de drenagem, mas o único local para botar a água é a lagoa - diz Webber, destacando a complexidade do momento.
A prefeitura de Rio Grande, no seu boletim mais recente, informou que 526 pessoas estão em abrigos. Doações podem ser entregues no Partage Shopping e no Praça Shopping. Os pedidos são de água mineral, alimentos não perecíveis, itens de higiene e gás de cozinha.